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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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como as repetidas gerações na história do motorista de táxi, pareciam

explodir de uma ferida no tempo.

Essa sucessão de vidas sem sentido, transmitidas de pai para filho, a

miséria dessa imortalidade por prestações me enojava. Eu senti rejeição de

uma existência nessas condições. Naquele momento, percebi com espantosa

nitidez, a incessante recorrência de imagens e acontecimentos, sempre os

mesmos, nas vidas de seres humanos comuns, esmagados pela ansiedade,

oscilando entre horários e quantias, presas de emoções negativas. Seres

humanos fadados a envelhecer, adoecer e morrer, um após o outro, de pai

para filho, inexoravelmente.

Reconheci o labirinto da minha existência, essa insidiosa prisão que

eu mesmo criei, da qual paradoxalmente eu era o carcereiro e o prisioneiro, e

da qual - por definição - não havia saída. As dificuldades e os problemas que

pensei ter resolvido e largado para sempre estavam ainda presentes, ainda

recorrendo mais dolorosamente, sem solução aparente. Eu via em mim a

vergonhosa repetição do meu impulso de fugir toda vez que detectava a

dolorosa sensação de estar subindo - sempre que eu tinha que confrontar

desafios e problemas aparentemente maiores do que eu, capazes de me

esmagar.

Algo que o Dreamer havia dito lançou um facho de luz no meu medo.

Somente aqueles que são forçados a enfrentar seu próprio horror e

aguentarem contemplar sua impotência e incompletude podem conseguir.

Eu não conseguia me fazer perseguir isto - eu tinha que interromper a

análise. Eu via que ao realizar este escrutínio interior, eu estava de fato

observando-me como um animal de laboratório, um porquinho da índia, uma

forma de vida inata e grotesca, que jamais iria querer ver ou conhecer, mas

ironicamente eu não tinha intenção de abandonar.

Impelido pela história de Fiorello, impelido por uma parte

desconhecida de mim mesmo, reli uma das páginas escolhidas naquela

manhã:

A memória cria destino... Destino cria memória... Enquanto você

acreditar em suas lembranças e continuar internamente a contar a si mesmo a

história imaginária de sua vida, você continuará projetando-a na sua frente,

convencendo-se de que você tem um destino, que na realidade é apenas

passado se repetindo. A memória e o destino, passado e futuro são ilusões.

Renconheça-os como nada mais que projeções simultâneas deste momento,

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