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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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mundo. Aquilo me chicoteava frontalmente como esferas de metal sobre o

eixo inclinado da minha existência. Repentinamente, tais ideias explodiram

internamente em uma girândola de luz, sons, imagens... Minha cabeça estava

em chamas.

Pelo Dreamer eu estava recebendo uma mensagem do futuro, uma

profecia tão forte e extraordinária sobre o destino do ser humano que eu não

conseguia sustentá-la, contê-la. Uma humanidade alforriada de qualquer

necessidade, arremessada para fora da condição correspondente à sua

natureza – ou pelo menos daquela que até aquele momento eu firmemente

acreditava fosse sua natureza, quando na verdade era seu inferno –, a mim

parecia uma ideia disparatada. Teria podido simplesmente colocá-la de lado,

rejeitá-la, mas era muito tarde. A visão do Dreamer me escavava e devorava

tecidos mortos e velhos esquemas. Não conseguia assimilá-la, nem tampouco

expeli-la. Como célula da humanidade, átomo de um corpo imortal, sabia que

o Dreamer estava indicando a estrada que todos, “heróis e semideuses

primeiramente, os outros depois”, deverão tomar... e chegar ao fim, ainda que

em mil anos. Enquanto me falava disso, sabia que esse incrível êxodo da

humanidade já tinha começado. Alguns indivíduos já haviam dado o primeiro

passo, o mais ousado: colocar em discussão a invencibilidade da morte, não

aceitar mais sua inexorabilidade. A Revolução Individual batia à porta...

Enchi páginas e páginas, sem parar, até sentir cãibra na mão. Cheguei

à última folha do caderno e febrilmente continuei a escrever no verso do

menu da casa de chá. O que me dizia já não importava mais se passaria pelo

filtro da razão ou seria racional ou aceitável. A única coisa que contava era

escrever, registrar tudo. Sabia somente que não deveria perder nenhuma

palavra, nem trocar um só acento... Um dia leria novamente aquilo e

entenderia; ou talvez fosse apenas algo para transmitir às novas gerações de

estudiosos, aquilo que ora o Dreamer me doava generosamente, embora eu

me sentisse tão despreparado para receber.

O Dreamer levantou-se, afastando delicadamente a cadeira e dirigiuse

à saída. Deixei a casa de chá um pouco contra a vontade. Percebi que na

verdade me agarraria a qualquer coisa. Acamparia até mesmo num bar para

não ter de enfrentar o novo. Fiz essa constatação ao observar a estranha

melancolia que me dominava, enquanto apressava o passo para alcançar o

Dreamer que já estava sobre a pequena ponte de madeira. Dirigiu-se ao ponto

de táxi ali perto e, quando dei por mim, estava sentado em uma velha

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