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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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egocentrismo, o desejo de ser o centro e criar escândalo, eram a mola secreta

e a explicação mais profunda dos comportamentos mais variados e menos

compreensíveis de tantos homens e mulheres: da paixão pelos esportes

radicais e aventuras mais arriscadas até as iniciativas humanitárias e

benignas, como a adoção de crianças de outra raça. Pela vaidade e pelo

egocentrismo, alguns podem enfrentar oceanos sobre uma caixa de fósforo,

ou erigir catedrais, fundar religiões. Entendi que a polaridade oposta ao criar

escândalo é o comportamento de quem é silencioso, de quem faz sem

nenhuma necessidade de levantar ondas contrárias, antagonismos ou

hostilidades. Há aqueles que, no silêncio, sem alardear, sustentam uma

responsabilidade que milhares de pessoas não poderiam nem mesmo tocar

com um dedo.

Recordei-me de um casal de amigos, ele pediatra e ela professora

universitária, que por humanitarismo quis adotar um menino equatoriano.

Enfrentaram inúmeras viagens àquele país e superaram inúmeras

dificuldades, pagando mediadores – e depois até a própria mãe da criança –

para conseguir a adoção.

Aqueles esforços não seriam jamais empreendidos, nem de longe,

para uma criança do próprio país. Uma criança branca passaria inadvertida,

os outros acreditariam ser realmente um filho natural, comentou quando Lhe

relatei essa história. Seria como orar ou jejuar sem o demonstrar, aliás,

tomando cuidado para que ninguém jamais viesse a saber de nada.

A criança negra teria, ao contrário, criado escândalo. Faria

manifestarem-se aversões, divisões, rancores, tê-los-ia ocupado com brigas

aparentemente externas, mas, na realidade, criaturas da própria violência

reprimida, materialização do próprio racismo inconsciente, dos sentimentos

de culpa que a escolha daquela adoção esperava produzir ou, de algum modo,

esconder deles mesmos.

Contei ao Dreamer que, com efeito, passados alguns anos, encontrei

aqueles meus amigos muitíssimo amargurados e envelhecidos. Falaram-me

das inúmeras angústias e das opressões, grandes e pequenas, que todos os

dias aquele menino e eles mesmos sofriam por parte de gente intolerante e de

um ambiente reacionário, nas palavras deles mesmos. Tanto que pais com

idêntica questão viram-se obrigados a constituir uma associação que se

batesse pela defesa de seus direitos e pela afirmação dos princípios que

tinham inspirado aquele ato de amor. Desiludidos e mais infelizes que antes,

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