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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Os ingressos

Cheguei pontual àquilo que se revelaria um dos nossos encontros

mais marcantes. O Thames Foyer do Savoy estava cheio àquela hora. Diante

de um chá fumegante, em via de degustá-lo, lá estava o Dreamer. A mesinha

estava coberta de doces de toda espécie. A disposição daquelas delícias e da

prataria era perfeita. Parecia não ter ainda tocado em nada. Saudei-O com a

costumeira deferência e ocupei em silêncio o lugar ao Seu lado. Eu tratava de

usar uma entonação e demonstrar contentamento, mas dentro de mim sentia

queimar a descompostura da noite anterior. Tentei deixar-me envolver pela

atmosfera déco e pela discreta música do piano, mas um pensamento

recorrente, desagradável mais que qualquer outro, confundia-me. As centenas

de justificativas que ao longo da minha caminhada até ali haviam se

apoderado da minha mente tinham agora se tornado um torvelinho. Estava

desesperado. Sabia que o Dreamer não era homem de aceitar um não como

resposta e a indecisão quanto a como Lhe dizer havia se transformado em

uma ansiedade insuportável. Sua voz, fria e calma, embrenhou-se entre os

meus pensamentos e fez-me sobressaltar.

Você não tinha como conseguir aqueles ingressos!, sentenciou sem

preâmbulos. O tom grave confirmou aquilo que eu temia: o Dreamer

considerava a tarefa que me havia confiado uma questão vital. Em um

segundo, o temor, a humilhação e a impotência transformaram-se em raiva,

em uma careta de arrogância incontrolável. Se sabia que eu não conseguiria,

porque me havia dado aquela tarefa? Eu tinha dado o máximo de mim para

encontrá-los. Por todo o dia não tinha feito outra coisa que não ir atrás

daqueles dois lugares. Os Miseráveis era o espetáculo de maior sucesso da

história recente do West End. Contei-Lhe como a minha busca se iniciou

naquela manhã bem cedo com uma sonora risada do concierge do St. James,

quando ingenuamente lhe pedi que reservasse duas poltronas para aquela

noite. “Mas como, o senhor não sabe?”, papagueou rindo. “Para duas

poltronas não sei se nem mesmo três meses de antecedência bastariam para

consegui-las!”

Minha procura ficou cada vez mais trabalhosa. Como confessei ao

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