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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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determinado, elegante, amado por seus homens estava tristemente se

transformando numa sombra de si mesmo. Vagava pela casa preocupado.

Gastava o tempo fazendo contas domésticas, discutindo com os operários da

obra a colocação de uma lareira ou de um pavimento, entrando em disputa

com um vizinho por questões de limites ou me ocupando do escoamento de

uma calha.

Com os vizinhos havia tentado estabelecer um relacionamento

amigável, presenteando-os com qualquer gadget eletrônico trazido do Kuwait

ou recebendo-os em casa. Mas todos os meus esforços eram incapazes de

aplacar a hostilidade que manifestavam.

Também nesta pequena localidade, escondida em uma ruga do

Cenozóico, Heleonore e eu éramos uns fora-da-lei. Era como se todos

soubessem da nossa transgressão, como se nossa chegada tivesse sido

precedida de uma excomunhão planetária, de uma ordem difundida para não

nos acolher. E a essa ordem toda a cidade havia respondido com a rapidez e a

precisão de uma obediência hipnótica, tornando nossa vida difícil. De fato,

para cada coisa, desde a colocação de Giorgia e Luca na escola às licenças

da prefeitura para completar a reforma da casa, eu encontrava obstáculos

inacreditáveis.

Recriminava, reclamava, acusava a burocracia, os eventos, as

pessoas, as circunstâncias e não entendia que a mudança tinha sido apenas

aparente.

Deixando aberta aquela porta atrás de mim, já tinha decidido pelo

meu fracasso, premeditado minha derrota.

O maior inimigo do ser humano é ele mesmo! Você é o exemplo mais

evidente de quanto é impossível ao ser humano abandonar as prisões da

mediocridade, levantar as armas contra os próprios limites, reverter a

descrição do mundo. A amargura que você está vivendo, sua fidelidade ao

sofrimento são a prova disso...

Pode parecer que sua vida esteja árida, reduzida, como se as raízes

estivessem infectadas ou doentes, mas a verdade é que você jamais sonhou

com algo diferente desta pobreza, desta dor, desta prisão.

Giuseppona tinha perdido sua comicidade e a proverbial loquacidade

que, sempre, em qualquer novo local que estivéssemos, preenchia nossa casa

como uma música. Não sentia mais aqueles seus divertidos monólogos,

comentários poéticos sobre todos os fatos familiares, atuais e distantes,

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