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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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energia que a ausência de dor gera.

Ao final da corrida, entrei na Courtney Avenue a toda velocidade.

Como sempre fazia, nos últimos metros eu acelerava o passo. O pensamento

de um banho quente animava-me e renovava-me a força das pernas.

Subitamente senti Sua presença. Era uma sensação inconfundível.

O Dreamer havia chegado! Dei uma olhada no meu macacão molhado de

suor e no meu tênis enlameado. Decidi dar a volta na casa e entrar por trás,

pela porta que dava para o jardim dos fundos. Dali, sem ser notado, poderia

dirigir-me aos meus aposentos, tomar um banho rápido e fazer-me

apresentável. Era o que eu pensava. Na verdade, a ideia de encontrar o

Dreamer, especialmente depois de tanto tempo sem vê-Lo, produzia em mim

sentimentos contraditórios. Vê-Lo, ouvir Sua voz, ou apenas recordar Seus

ensinamentos eram uma aceleração do ser, uma compressão do tempo que me

compelia ao trabalho. Amava e detestava o esforço repentino de dever

recompor os fragmentos esparsos de um corpo que, na ausência do Dreamer,

tinha se desarticulado. Era como um brusco despertar que me obrigava a

reconhecer que no esquecimento perdemos nossa identidade e tornamo-nos

massa, multidão.

Não tive tempo de apoiar o pé no primeiro degrau da escada que

levava ao meu quarto e já Sua voz inconfundível alcançou-me, congelandome

no lugar.

Você está lamentando o passado!, disse em voz alta, dando um áspero

início ao nosso encontro. O Dreamer sintetizava em poucas palavras toda a

angústia dos últimos meses e meu estado de ânimo. Fui pego em flagrante.

Sim! Estava lamentando com dor o passado havia meses! Como os hebreus

do êxodo, prontos a trocar a liberdade, eu teria preferido a segurança das

velhas restrições àquela solidão, àquela vida sem sentido. Eu precisava adorar

o ídolo do mundo, precisava retornar à minha habitual confusão. Se tivesse

podido, teria retornado ao já familiar seio da irresponsabilidade, da

dependência. Teria mil vezes preferido a casinha de Chiá àquela rica

residência londrina, a qual não me sentia preparado para possuir e fazia-me

sentir pequeno, irreal.

Nos momentos de lucidez, entendia que o Dreamer me empurrava até

limites que eu não teria jamais atravessado, colocava-me em situações que

não teria jamais experimentado. Meu equilíbrio ao Seu lado era

constantemente instável, como um sonâmbulo sobre o abismo. Embaixo

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