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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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A doutrina de Lupelius

Padre S. escutou-me absorto, a cabeça inclinada sobre o peito.

Quando levantou o rosto, seu olhar brilhava. Revi aqueles olhos

extraordinariamente jovens que tanto me haviam impressionado ao encontrálo.

Desta vez não os escondeu, continuou a me fitar. Seu rosto assumiu a

expressão de quem espera ser reconhecido.

Não me esquivei do jogo e concentrei-me sobre aquele seu primeiro

movimento. A solução do enigma chegou de repente, ofuscante como um raio

que rasga um céu negro. Senti uma leve vertigem. Aquele ser se camuflava

de velho... mas, sim... usava a velhice como uma máscara... uma máscara

estratégica. Padre S. era um falso velho. Meu coração pulou no peito.

Padre S. era... um lupeliano! Eu estava certo disso. Consegui com dificuldade

conter a emoção que a descoberta gerou em mim... Experimentei o prazer

sutil da cumplicidade que se estava estabelecendo entre nós. Um cordão de

ligação de dez séculos unia-nos àquela estirpe de guerreiros que sabia viver

habilmente e conhecia a arte do travestimento. Suas capacidades

camaleônicas haviam-lhes permitido viver na intimidade da sua ordem,

escondidos no seio do cristianismo. Um túnel abriu-se no tempo e mais de

mil anos foram comprimidos num instante para me conduzir e colocar-me

diante das portas daquela Escola. Eu estava defronte talvez do último de seus

imortais guardiães. Uma pergunta martelava em minha cabeça, pulsando com

minhas artérias: “Padre S. conhecia o Dreamer?...”. Fiquei tentado a lhe

confidenciar meu encontro com o sonho e a extraordinária aventura que eu

estava vivendo naqueles dias.

“Lupelius é o profeta da imortalidade física, direito de nascimento de

todo ser humano”, revelou padre S., interrompendo meu pensamento febril e

amenizando suas reservas iniciais. “Um direito do qual abdicamos e devemos

nos apropriar novamente.” Depois, como que sorvendo de um livro invisível,

mais que citar, leu com os olhos fechados: O corpo é o espírito feito carne. Se

o espírito é imortal, também o é o corpo.

Era evidente a alegria que ele sentia ao recordar a Escola e ouvir

outra vez as palavras que ele mesmo parecia não ter mais escutado. Contou-

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