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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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5 - Adeus, Nova York

Pelas ruas de Manhattan

Os escritórios centrais da ACO ocupavam um elegante edifício de

nove andares, uma joia de mármore e alumínio encravada entre os arranhacéus

da Park Avenue. Em quatro minutos, da Roosevelt Island eu chegava

com o bonde aéreo à 60.ª, sobrevoando o East River a bordo de uma pequena

nave balangante. Percorria, depois, a pé, um trecho de poucos quarteirões

pelo coração pulsante de Manhattan. Ao longo do caminho, uma multidão

sem fim cingia-me como um rio, arrastava-me por um canal de ruas e

margens feitas de edifícios de mil olhos vidrados.

Havia transcorrido duas semanas do nosso último encontro, mas Suas

palavras, como uma substância viva, preciosa, estavam ainda agindo com

uma força desconhecida. Eu as sentia se tornarem glândulas, tecidos, órgãos

capazes de destilar uma química de atenção, de vigilância. Cada coisa

começava a ser mais clara. A massa humana, que até aquele momento parecia

um ajuntamento indiferenciado, mostrava-se agora em cores, com energias e

frequências variadas. Observando as pessoas ao redor por intermédio dos

olhos do Dreamer, percebi que o menor detalhe denuncia a posição que cada

um de nós ocupa na escala do ser e o nosso papel no mundo. Tudo está

conectado a tudo e nada é separado. Caminhava e sentia a multidão respirar

comigo, como um único imenso ser. Podia sentir seus medos e estados de

espírito. Podia ouvir seus pensamentos. Notei quão fielmente se revelavam

por seus trajes, nos movimentos, nas atitudes, no passo, no trabalho que os

esperava e impunha-lhes a pressa. A visão, as aspirações eram limitadas aos

papéis nos quais a existência os havia incrivelmente confinado.

Nosso nível de ser cria a nossa vida, e não vice-versa. Comprimia no

peito o conceito, como um escudo, ou um talismã, enquanto eu passava por

aquela sucessão de imagens humanas à qual jamais, antes, tive consciência de

pertencer. Sentia o canto de dor que se erguia de cada uma daquelas células;

pela primeira vez escutava o incessante monólogo interno de uma

humanidade que não sabe. Sentia sua solidão dolorosa, escutava seu

zumbido, similar ao frêmito de milhões de asas de insetos. Antes de encontrar

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