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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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vida é um moto de ondas sem início nem fim. Os muros que, em certos

momentos, a corrida me apresentava, e o esforço extraordinário que sua

superação exigia permitiam-me conhecer um paradigma recorrente não

somente na corrida, mas na vida. Quantas vezes teria bastado que me

esforçasse um pouco mais para superar aqueles obstáculos, vencê-los

definitivamente, e ir além! Mas alguma coisa sempre me fazia dar por

vencido e entregar os pontos. O fracasso, que sempre acreditei fosse efeito de

causas externas, revelava-se um processo de dentro para fora, um mecanismo

obediente a um comando interno, um ato de autossabotagem. Uma sombra

nasce e se propaga no ser, depois encontra ocasião para se materializar sob

forma de encontros, circunstâncias e eventos adversos. A consciência desse

mecanismo, a atenção à formação dessa sombra no ser, prelúdio de cada uma

de nossas derrotas, era a grande oportunidade para aprender a circunscrevê-lo

e eliminá-lo, não apenas da corrida, mas da minha existência.

Minha corrida era, na maior parte das vezes, solitária. Meus

companheiros eram os voos das gaivotas ou qualquer barcaça que, subindo o

East River, apoiava-me por um trecho, deixando-me em seu rastro com um

assovio de saudação.

Correndo, muitas vezes eu fantasiava; gostava de acreditar que a

qualquer momento encontraria companheiros de fuga, seres audazes que,

como eu, haviam decidido escapar de uma existência medíocre. Uma vez se

formou um pequeno grupo de cinco homens e duas mulheres. Começamos a

correr dando o máximo de nós mesmos. A manhã era luminosa e a silhueta de

Manhattan sobressaía nítida contra o céu. Lado a lado, fizemos uma volta

completa na ilha. Não os conhecia; porém, encontrei naqueles companheiros

de corrida uma cumplicidade imediata. Tive a impressão de ser um grupo já

familiarizado entre si. Um homem com um macacão cintilante como seda e

tênis de corrida negro e cinza dava o ritmo. De repente, acelerou. Incapazes

de manter aquele ritmo, um a um de nós foi ficando para trás. Nossos corpos

pesados, abatidos, mostraram seus limites. Rapidamente o perdemos de vista.

Aquele confronto tornou penosamente evidente o quanto cada um de nós

tinha ainda a fazer. Continuamos a correr em grupo até o parque infantil e nos

sentamos em banquinhos para recobrar o fôlego.

Não distante, estava estacionado um glorioso carro de bombeiros,

naquele momento inativo e reduzido a atração para as raras crianças da ilha.

O destino daquele veículo, símbolo de antigos heroísmos, pareceu-me o

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