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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Um futuro de segunda mão

Os momentos de lucidez tornaram-se sempre mais raros. Afrouxados

os fios luminosos que me ligavam ao Dreamer, aliás, grande parte deles

rompidos, apressei-me em reconstruir o meu mundo de sempre, em cada

pequeno detalhe. Entre um monte de casas em uma cidadezinha incrustada

entre pequenos lagos aos pés de uma imensa ruga glacial, encontrei uma

velha casa à venda e, com as minhas reservas em dólares, comprei-a.

Dediquei-me com empenho em reformá-la e torná-la acolhedora para ocupála

até que pude deixar Talponia e me transferir definitivamente com as

crianças.

Logo se juntou a mim Gretchen, uma jovem divorciada que conheci

nas últimas semanas em Nova York, e que veio estar conosco trazendo o

filho Tony de cinco anos. Eu estava normalizando a família. Depois de Luisa

e a conclusão da história com Jennifer, reconstruía uma família pela terceira

vez. Mas sem me dar conta, estava de novo encerrando-me nas celas das

velhas prisões. Gretchen era o oposto de Jennifer, a “juish princesse” novaiorquina.

Campeã de esqui, Gretchen havia herdado o espírito e a força física

das mulheres que colonizaram o oeste americano. Praticava esportes, tinha os

músculos de aço. Era concisa, rude e provinciana, enquanto Jennifer era

sofisticada, vaidosa, cosmopolita. Assim mesmo, depois de poucas semanas,

aquela relação já percorria velhos e conhecidos trilhos. Aparentemente eu

havia trocado de trabalho, de parceira, de continente, mas, na realidade,

minha vida retomava todas as vezes aquela forma rígida gravada na memória

de suas fibras.

Nosso nível de Ser cria a nossa Vida. Dia após dia, um fragmento

após outro, eu reconstruía minha velha vida, como um ser mecânico

condenado pela sua memória genética a repetir cada gesto, recluso numa

eternidade inconsciente. Velhos hábitos, pensamentos e emoções de sempre

fabricavam, com meticulosa precisão, as mesmas circunstâncias e os mesmos

eventos do passado. Sob a máscara de uma nova vida, atrás da grosseira

tentativa de se disfarçar de futuro, o passado se reproduzia sempre e

cruelmente igual a si mesmo.

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