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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Dreamer e a decisão de me envolver com este empreendimento precipitado.

Algo pegajoso forrava minha boca, e eu senti a inequívoca dor que

sempre governou minha vida. O medo de perder se transformou em medo de

ganhar, ainda manchado com a mesma doçura ingênua, a mesma aflição.

Senti meu mundo ameaçado por pânico, terror, desolação, o sangue dos meus

membros sugados por uma doença fatal. Eu teria gostado de abandonar meu

corpo, deixá-lo ali como uma pele descartada, e ir embora.

Você pode pensar que o medo é uma reação natural a algo que

ameaça você de fora, em outras circunstâncias havia me dito o Dreamer. Na

realidade, é o seu medo que é a fonte e a própria causa do que você tem

medo.

Eu culpava o Dreamer por ter me dado outra tarefa insustentável,

outro oceano a atravessar, outro pico a escalar. Por que eu vim aqui? Por que

eu ostentei uma confiança que não possuía?

O meu “sonho” que me conduziu a este lugar se dissolvia. Eu vi

aquele infinito instante expirar, sua eternidade deslizar dos meus dedos,

dissolver-se, uma gota no Rio Stix do tempo. Afundei no próximo ato dos

procedimentos do tribunal, uma sombra entre as sombras a encher a sala, um

desconhecido ator no meu drama.

Voltei a cabeça para olhar furtivamente a porta. Senti um laivo de

alívio, ainda estava aberta.

Vi meu rosto, ridicularizado e distorcido de medo, projetado numa

imensa pirâmide de cristal por um instante fugidio, antes de explodir com

bramido de mar tempestuoso. O ar ainda chovia estilhaços de cristal quando

ouvi a voz do Dreamer acima do estrondo desse golpe, mais perto de mim

que meu próprio alento.

Aqui não há tempo nem morte, disse Ele. No meu mundo não há

espaço para dar meia volta, acusar ou lamentar. Aqui, próximo do Dreamer,

não há espaço para indulgir em nenhuma fraqueza, dúvida ou medo.

Essas palavras Suas ainda vibravam quando ouvi a voz de um dos

últimos apostadores, alta e confiante, fazendo uma oferta muito mais alta que

a minha. Senti um desespero crescente: a vitória desaparecia bem diante dos

meus olhos. Uma sensação de derrota que sempre carreguei dentro de mim se

materializava novamente. Outra fração de segundo, e eu perderia a aposta

definitivamente.

Levou uma eternidade o juiz erguer seu martelo. Vi-o erguido, pronto

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