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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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3 - O corpo

O mundo é você

Transcorreram alguns meses desde o último encontro com o Dreamer.

As palavras na atmosfera encantada da estufa ao lado da piscina ainda

importunavam minha memória. Sobretudo, tornava a ecoar dentro de mim,

inesquecível, aquele Seu grito desumano: Paaaaaare!... e a sensação de me

tirar tudo de dentro e deixar-me vazio. Durante um tempo, não pude pensar

em outra coisa. Frequentemente relia aquelas anotações e renovava em mim,

vívida e forte, a química de Seus ensinamentos. Depois, gradativamente, e

sempre mais, Nova York me absorvia. A vida retomou os trilhos de sempre,

entre o trabalho junto à ACO, e a rotina com as crianças e em casa com

Jennifer. A substância preciosa, a duras penas reunida nos meus encontros

com o Dreamer, dissipou-se, e os estados de ser, pensamentos, atitudes,

linguagem retornaram à condição de antes. Uma noite estava com alguns do

meu time de trabalho bebendo qualquer coisa na típica penumbra de um bar

da Madison, cumprindo o inevitável ritual nova-iorquino de fim de dia.

Festejávamos o aniversário de um deles. De repente, como se o mundo

tivesse perdido os sons, o bar, cheio de seus clientes habituais, entrou em

absoluto silêncio. O tempo desacelerou. Observei as expressões inchadas

de álcool dos meus companheiros, vi as expressões de dor escondidas

atrás de risadas sufocadas. Tive a paciência e a irônica lucidez para

refletir sobre quão grotesco era chamar aquele triste ritual de happy hour. Em

seguida, lancinante, brusca, bateu a dor de uma saudade, a sensação

inesperada de haver descuidado de algo vital, insubstituível. O desejo

dolorosamente comovente de revê-Lo se alternou com a náusea daquele

vazio, até tomar conta de cada volteio do meu ser. Dirigi-Lhe um mudo e

desesperado chamado. Jamais um SOS foi assim literalmente lançado para a

salvação de uma alma.

Poucos dias depois, Valery, minha assistente, entrou na minha sala

com o costumeiro café com leite em uma mão e um envelope na outra. Dele

tirou uma passagem de avião e, sem dizer nada, estendeu-a a mim com certa

contrariedade ou até mesmo raiva, como teria feito uma esposa diante do

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