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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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velho do xeique, uma honra reservada aos hóspedes de alta estima. A

conversa logo ficou animada e teve como centro o xeique Yusuf, que se

revelou um homem de inteligência vivaz e um anfitrião primoroso, atento aos

menores detalhes. Bebemos chá e suco de frutas. O Kuwait, entre os países

do Oriente Médio, é um país abstêmio, respeitoso às leis do Alcorão, e

qualquer bebida alcoólica é rigorosamente proibida, pelo menos oficialmente.

O jantar concluiu-se com doces libaneses à base de nozes e mel e café

preparado sobre o braseiro, de acordo com o uso nômade, servido em xícaras

pequenas e muito sutis. Era sempre fascinante o espetáculo do líquido negro e

denso, com o gosto do pó, esguichado com mestria de brilhantes bules de

latão pelos farraj.26 O café continuou a ser servido e os longos jorros

fumosos continuaram a encher as pequenas xícaras, até que cada um agitou a

sua com um movimento rotativo do próprio pulso, o gesto de praxe que

indica a saciedade do convidado.

Somente então o xeique Behbehani, que me reservara a cadeira à sua

esquerda, expôs o seu projeto: criar no Kuwait um novo empreendimento

comercial. Pediu que me transferisse à cidade do Kuwait para montá-lo e

dirigi-lo. Eu teria uma participação no capital e a condição de diretor

associado. O sonho estava se tornando realidade: criar uma organização

internacional, reunir homens, juntá-los, escolher recursos, avaliar-me diante

das dificuldades de uma imprensa em um ambiente tão difícil. Enfim, eu

cortaria os sete mares dos negócios com uma embarcação toda minha. Era o

que eu mais desejava. Ou pelo menos assim sempre acreditei. Pedi duas

semanas para decidir e me despedi. Porém, enquanto retornava ao hotel,

estava já em estado de apreensão. Apesar de todos os meus esforços, aquela

proposta não me despertava alegria. Continuei a pensar intensamente nela por

todo o trajeto de retorno, mas quanto mais eu refletia, mais sentia

multiplicarem-se e agigantarem-se as resistências quanto a me transferir para

o Kuwait. Depois dos poucos instantes de entusiasmo inicial, aquela

perspectiva tinha acabado por se tornar uma presa da minha imaginação

negativa e dos meus medos. Como na parábola, a semente da oportunidade

tinha caído num terreno cheio de espinhos, onde lentamente sufocou e

apagou-se, como o fogo dos farraj ao final daquele jantar.

A infinita extensão do deserto cinza, enrugado como imensas costas

de elefante, deslizava agora sob a barriga do avião que me levava de volta à

Itália, somente interrompido vez ou outra por um perfeito círculo de verde

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