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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Obrigado, Luisa!

Continuamos a viagem ao passado. O cenário lentamente mudou e o

Dreamer conduziu-me ao período das minhas contínuas viagens, entre

Firenze e Milão, de visita a Luisa, hospitalizada no Instituto da Via Venezian.

Rapidamente fui aprisionado nas mesmas gaiolas mentais e entrei nos estados

de ser de então. Experimentei aquele sofrimento que se fazia mais agudo cada

vez que se aproximava uma partida. Afligia-me o conflito entre a obrigação

moral de estar próximo a ela e a repugnância de entrar naquele cerco

abarrotado de sofredores. Atravessando as alas ou a enfermaria, encontrandoos

pelos corredores, eu lia seus rostos, folheava-os como pálidas páginas de

um livro. Penetrava penosamente nas linhas da história de cada um, nas

palavras de suas expressões, nos matizes de seus sofrimentos. Era invadido

pelo medo de um dia ter de me sujeitar ao mesmo destino. Então, senti uma

vontade irresistível de fugir, de deixá-los para trás e esquecê-los para sempre.

Fora havia aquilo que eu chamava vida: gente perdida na estupidez do dia a

dia, o rumor intenso e confuso das ruas, o som e a brancura de risadas fúteis

que infundem tranquilidade. E para lá corria, entre a multidão, para me

refugiar. Apressadamente cumprido o ritual de cônjuge condoído, uma vez

amortecidos meus sentimentos de culpa – achando alguém da equipe médica,

pedindo notícias e mostrando-me preocupado – rapidamente tratava de

encontrar um pretexto qualquer e escapava. Como um desesperado, rodava

pelas ruas do centro introduzindo-me entre a multidão, mergulhando na

confusão do tráfego. Envolvia-me nas cores e luzes da cidade, atordoava-me

com os sorrisos das mulheres bem vestidas e com os ornamentos das vitrines,

alimentava a ilusão de um mundo sem problemas, habitado por gente

milagrosamente invulnerável e feliz. Naquela fantasia procurava refúgio.

Naquela bolha psicológica encontrava ar, como uma enguia em seu muco.

Somente o pensamento em Luisa, a cada tanto, irrompia sem prévio aviso e

distraía minha embriaguez. Apreensão, medo, sentimento de culpa, como

Erínias, divindades vingativas, vinham me encontrar num cinema, numa

mostra ou num café. Então, o pensamento da fragilidade da vida, a

impotência e o desconforto por sua precariedade inundavam-me o ser com

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