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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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corpo transformou-se num único e longo arrepio. Teria preferido cem vezes

Sua explosão de ira àquele seu inumano sorriso.

Você, como milhões de seres, é vivo e sincero somente quando sob

ameaça. Somente quando encontra alguém ou alguma coisa mais violenta que

você é que mostra um aspecto de homem...

Por um instante fiz você de espelho e você recuou diante da sua

imagem refletida, como sempre fez na vida. Teve medo da sua própria

violência. Está horrorizado porque não se conhece, disse com um tom já

normal. Seu rosto tornou-se subitamente sereno e pacato, sem fotogramas

intermediários.

Pessoas como você alistam-se à vontade entre os pacifistas, vão

engrossar as fileiras de todos os exércitos da salvação do planeta, tornam-se

apóstolos do humanitarismo, defensores contumazes da não-violência, sem

saber que são, eles mesmos, propagadores de lutas e de divergências.

A humanidade cria instituições beneficentes, organizações

humanitárias, movimentos filantrópicos que são o reflexo encarnado da sua

falsidade, da sua degradação... Altruísmo, humanitarismo tornam-se formas

que seres usam para esconder de si mesmos a própria violência; são a forma

com que alguns assumem a própria separação, a distância dos outros. A

benevolência, a generosidade, o amor degradam-se e materializam-se numa

alma mendicante, no equívoco mais completo do verdadeiro sentido de fazer

pelos outros, na degeneração última e extrema da caridade.

Agora o Dreamer não estava mais se dirigindo a mim. Na mira da Sua

injúria havia englobado toda a humanidade como ela é, uma humanidade

decadente, que perdeu qualquer conexão e até a memória das reais qualidades

de um ser. Essa inserção de mais pessoas considerei um modo de abrandar a

pressão sobre mim e dar-me um pouco de fôlego. Senti alívio, um misto de

aturdimento e felicidade de quem sai milagrosamente ileso de um acidente

mortal. O sabor de uma liberdade desconhecida, de imperceptível fez-se

sempre mais forte, até plenificar o ser. Era um nascimento, era aquela a

minha primeira respiração. Atravessou-me os pulmões, renovados, como um

fogo líquido que os preencheu infinitamente.

Mas aquela trégua durou pouco. O Dreamer aferrou-me entre Suas

garras, sem piedade, como faz uma fera que se detém por alguns instantes

para lamber a presa ainda palpitante, e depois retoma seu cruel banquete.

O mal não é ser violento, mas, sim, não saber que o é. A violência é a

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