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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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que a Grécia clássica e Roma dedicaram a qualquer forma de trabalho, físico

ou intelectual. Na época de Homero, considerava-se a pior das condições

humanas a de thetes, o operário agrícola que para viver devia vender o

trabalho dos próprios braços. Para os gregos, sustentados pela liberdade,

depender de qualquer um para a sobrevivência cotidiana era uma servidão

intolerável. Segundo Aristóteles, dever-se-ia recusar a qualificação de

cidadão a todos aqueles que precisassem trabalhar para viver. O exercício da

virtude política era impraticável e impossível para quem fosse um

assalariado, um operário, ou recebesse qualquer contribuição por um

trabalho, pois era uma condição que impedia ao espírito a elevação e o bemestar.

Senti crescer em mim, antes ainda de uma barreira mental, uma

animosidade irrefreável. Pensei que aquela visão pudesse ter lugar até na

Grécia do século IV, mas era um despropósito propô-la a uma sociedade do

terceiro milênio. Esse vestígio de racionalidade contribuiu para fomentar o

meu ressentimento pelo ataque que eu sentia iminente e já despontava

furtivamente diante do que dizia o Dreamer. Sem mais poder me conter,

explodi: “Todos desistiriam de trabalhar se pudessem desfrutar dos

privilégios de um aristocrata...”.

O Dreamer pôs às avessas minhas ideias, como se faz com uma luva:

É o grau de liberdade conquistado internamente, afirmou com

severidade. É a vitória sobre o medo que faz um ser pertencer à classe dos

heróis, à classe daqueles que amam, que sonham, e não àquela de quem deve

trabalhar para viver.

O ser humano deveria dedicar-se somente a manter um elevado

estado de ser, uma condição de serenidade, e não deixar jamais de sonhar...

assim tudo lhe seria acrescentado.

Somente uma humanidade educada para a beleza, para a verdade,

para o bem-estar, somente uma humanidade sonhadora, intuitiva,

contemplativa pode suportar o poder do não-fazer, a responsabilidade do ócio

áureo.38

A velha humanidade quer continuar a trabalhar... não saberia o que

fazer se não trabalhasse... Quer depender. Já decidiu viver sob a égide do

medo... elegeu a dúvida como o seu patrimônio natural e chefe!, comentou o

Dreamer, deixando escapar uma veia de amargura, como se observasse o

efeito desolador e irreversível de uma ruína cósmica. Suicida-se tentando

dedicar-se a algo incessantemente, preocupando-se, aturdindo-se... tornando-

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