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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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companheiro de prisão. Retornando àquele trabalho, eu lhes levava um sopro

de vida artificial, como um suprimento de oxigênio a um doente. O que lhes

poderia dar mais satisfação? Eu era a prova dos nove de suas próprias e

radicadas convicções, a demonstração viva e conclusiva de que a fuga

daquela existência infernal era impossível e até perigosa. Imagino que,

mecanicamente, experimentassem sentimentos confusos em relação a mim.

Maldade, sarcasmo, alegria pelo insucesso daquela evasão eram secreções

emotivas que se imiscuíam e se emaranhavam no casulo de suas almas. O

caso daquele companheiro resgatado estava retirando de suas mentes até o

mais vago desejo de fuga. Meu retorno oferecia o consolo que traz consigo a

aceitação do insuperável, o alívio que sentimos pela rendição diante daquilo

que nos parece irremediável, invencível. Calado aquele solitário roçar da lima

que havia precedido minha fuga, retornou, sinistro e tranquilizador, o silêncio

do cárcere e sua ordem.

Uma forma de esquecimento acompanhava minha reintegração à

condição de dependente e mitigava a amargura então insuportável. Ainda

alguns dias mais e a operação de reinclusão naquele mundo seria completa e

irreversível.

Antes que isso pudesse acontecer, com os últimos sinais de lucidez

tentei de todos os modos reencontrar o Dreamer. Retornei a Londres,

procurei-o no St. James, no Savoy. Retornei ao banco da Roosevelt Island, ao

Café de la France, em Marraquesh. Rastreei as ruas de cada lugar onde tinha

estado com Ele... sem êxito.

O Dreamer havia me abandonado.

Na ansiedade que acompanhava aquela conclusão, pela dor daquela

perda, cheguei a pensar que Ele não tivesse nunca existido, senão na minha

imaginação.

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