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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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O mundo é como você o sonha

Desse ponto em diante, o Dreamer me fez cuidadosamente tomar nota

de princípios e práticas, de atividades e técnicas, aparentemente heterogêneas

e díspares, mas amoldando, em seu conjunto, uma disciplina completa, um

sistema. Como a silhueta de um continente desconhecido, do invisível, eu via

surgir os contornos de uma cosmogonia única e fascinante. Passei alguns dias

de intenso estudo dentro da imponente biblioteca de Mas Anglada, onde

encontrei e consultei importantes obras que me auxiliaram na melhor

compreensão da Escola dos Deuses. Em especial, pedi-Lhe explicação sobre

os desenhos e fórmulas que havia encontrado no manuscrito. Lupelius

considerava corpo e espírito uma só e indivisível realidade, e reconhecia o

corpo como o criador de todo o mundo fenomênico, do micróbio a Deus.

Devo tornar claro que o uso dos termos espírito, ou às vezes alma, é uma

intromissão minha feita com o objetivo de simplificar a compreensão do

leitor.

Quanto mais das teorias de Lupelius eu aprendia sobre comida e

sobre o corpo, mais eu sentia o pensamento em estado de choque e retrocedia

diante das implicações últimas de seus postulados. Algumas proposições

dentre as mais indefensáveis do monge-guerreiro, como estilhaços de

irracionalidade, tinham se fincado na minha mente e inquietavam-na. Eu

precisava muito falar sobre isso com o Dreamer.

A ocasião apresentou-se na terceira noite, quando Ele me convidou a

visitar a adega de Sua extraordinária casa. A ordem em que estavam

organizados os vinhos, por país, qualidade e ano, era absoluta. Não tinha

jamais antes nem mesmo imaginado a existência de uma coleção tão grande e

completa. Ao lado da lareira, saboreando um de Seus vinhos mais preciosos,

o Dreamer perguntou-me sobre o andamento dos meus estudos e se eu havia

descoberto algo de relevante. Contei-Lhe dos pontos mais impraticáveis e

difíceis da teoria de Lupelius sobre o corpo e, sobretudo, aquele diálogo entre

Lupelius e um de seus discípulos, cujo argumento – a capacidade do corpo e

dos seus órgãos de criar o mundo – havia se tornado uma verdadeira obsessão

para mim.

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