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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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sua velha cafeteira. Beijou-a com ostensiva veneração. Era o único bem que

não queria ter perdido e que havia prudentemente escondido. Encheu-a de

água e levou-a ao fogo. Depois, com a solenidade de uma antiga protetora,

disse: “Ma ‘chella’ non era per te!”. A escolha daquela frase, memorável

epílogo das minhas histórias de adolescente, naquele seu tom de voz,

transformou a circunstância em um cômico epitáfio que uniu a família em

uma alegre e longa gargalhada. A leveza e a fragrância daquele momento se

fundiram ao aroma do café. Não teria conseguido imaginar, ou desejar, um

começo mais favorável, nem um prenúncio melhor.

A separação de Jennifer foi para mim uma morte e um renascimento

que aconteceram no mesmo instante. Foi o efeito da eliminação de um átomo

de medo do ser. Acreditava amar aquela mulher, mas aquilo que realmente

eu amava era o meu sofrimento e o medo que, àquela altura, tinham se

tornado familiares e indolores. Sozinho não teria conseguido jamais.

Ninguém consegue sozinho.

Para abandonar velhos modos de pensar, ideias obsoletas,

preconceitos, superstições e compromissos, como aqueles que tiranicamente

tinham governado a minha existência, é necessária uma Escola, um método,

um plano de fuga. É necessário encontrar quem, antes de nós, tenha realizado

a própria prisão e, depois, conseguido escapar da narração hipnótica do

mundo, das suas leis. A Ele ofereço toda a minha gratidão e a todo ser

humano faço votos que encontre o Dreamer. Somente quem se viu diante do

próprio horror, quem percebeu a própria impotência, a própria incompletude

pode conseguir. Escrevo para lhes dizer que o Dreamer existe e é o ser mais

real que já encontrei. Seu mundo de impecabilidade, sem tempo, é mais vivo

e concreto que o nosso, e pode ser alcançado. Há um trajeto árduo, mas

praticável; há uma passagem em direção à verdade, à beleza, à felicidade,

uma nova rota para as Índias, veloz e ainda mais rica.

Algo de invisível e potente, a que todo homem tem acesso, aciona as

engrenagens do maravilhoso. A menor mudança no ser move montanhas no

mundo dos eventos. No esforço de zarpar, senti o cabrestante gemer e a

âncora chacoalhar-se depois da sua longa prisão no fundo lamacento. Na

outra ponta daquela viagem não havia um pequeno arquipélago, mas um

continente psicológico imenso e inexplorado. Minha respiração estava

suspensa entre o temor e a alegria, como um menino na descida da montanharussa.

Dirigi ainda uma vez mais um pensamento de gratidão ao Dreamer e

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