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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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O Dreamer não teve nenhuma reação. Permaneceu absorto na leitura

do livreto, aberto na palma da Sua mão esquerda. Tão logo falei, quis

retroceder, retornar a fita do tempo e apagar tudo. Mas era tarde demais. A

violência e a arrogância do tom que usei voltaram-se contra mim; senti-me

esmagado pelo peso de um rochedo. Notei que pelo menos consegui evitar

dizer “eu”. E isso, absurdamente, deu-me certo alívio. O silêncio continuou,

já mais denso e penoso. Permaneci imóvel todo o tempo, observando-O ler.

Quando deixou a leitura, fui assaltado por uma inquietude, um perigo

impendente e desconhecido. Lentamente fechou o livreto, mantendo os dedos

indicador e médio entre as páginas, fazendo as vezes de marcador, e levantou

os olhos até se fixarem nos meus com uma intensidade que não pude

suportar. Percebi, por um instante, o abismo que nos separava e uma vertigem

de anos-luz mediu a distância entre nossos seres.

Você ainda pertence a um mundo que acredita agir e escolher... um

mundo em que se fazem planos e programas... e no qual a emanação da

existência passa inobservada, acusou-me com um tom de patrão severo.

Depois, atenuando-o imperceptivelmente, disse: O único planejamento que

um ser pode fazer é desenvolver a si mesmo, alimentar o próprio sonho. Todo

o resto lhe será acrescentado. O abandono de um átomo de medo move

montanhas e projeta-o como um gigante no mundo dos eventos.

“Como é possível evitar preocupar-se com o futuro?”, perguntei

ansioso; temia a dor de uma intervenção. Encorajado por um raio de

benevolência, completei: “Como se pode viver sem planos, sem programas?”.

No tom da voz era reconhecível o esforço de remediar, de qualquer jeito, a

grosseria da minha primeira pergunta.

A programação é uma forma de exorcismo, uma fuga do real. O ser

humano aplaca o medo do futuro com a falsa segurança das previsões, por

intermédio de rituais de planejamentos e programas. Diante da aparente falta

de controle, da imprevisibilidade da existência, seres como você recorreram a

fórmulas e regras, na ilusão de conseguir dobrar o Universo pelas lentes

deformantes da racionalidade e substituíram-no por uma descrição mais

confortante.

Mas nada disso jamais pôde aliviar a sensação da própria

precariedade, aquela sensação de insegurança, disse, como que observando o

resultado de um amargo balanço.

Programar é como cavar um poço e acreditar poder fazê-lo conter a

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