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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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da convicção de que a morte é inevitável e invencível”, disse padre S. “Tudo

faz parte de uma estratégia de purificação para conseguir vencer dentro de si

aquela secreta volúpia por morrer que, no ser humano comum, assume

inúmeros aspectos, impregna a sua psicologia, até se tornar uma segunda

natureza, parte ineliminável da sua vida.

Acreditar que a morte é invencível é insalubre às pessoas. Sua

longevidade é determinada por seu estado mental, por seu desejo de viver.

Sua longevidade é determinada por sua mente”, atestou padre S.,

sintetizando, para meu prazer, o pensamento de Lupelius: “Isso significa que,

se você morre, é você o único responsável!”.

Uma pequena freira entrou silenciosamente trazendo o necessário

para nos servir um chá. Pelo olhar de estupefação que me lançou enquanto

transferia xícaras e bule para a mesa e servia a infusão, percebi o quanto

devia ser raro padre S. estar com alguém tão longamente. Meu anfitrião

calou-se enquanto durou aquela operação. Somente quando a freira saiu ele

retomou aquele ponto e contou como os lupelianos sabiam que colocar em

discussão a inevitabilidade da morte – ainda que somente por ironia –

debilitava o seu poder.

“Pela afirmação do direito de cada ser humano à imortalidade, por

sua luta dedicada a denunciar a morte como o mais horrível e injusto dos

preconceitos humanos”, anunciou padre S. em tom epigráfico, “Lupelius será

recordado como o mais importante místico da imortalidade física”.

Continuou dizendo que Lupelius uniu-se àquela religião física,

corporal, que foi o cristianismo nas suas origens, e tornou-se o seu

continuador, arauto do materialismo espiritual e da sua mensagem de

indestrutibilidade do corpo.

“Mentir, esconder-se, lamentar-se e tentar escapar das próprias

responsabilidades são os estigmas do ser humano caído na imoralidade, na

divisão; do ser humano que esqueceu a razão do seu existir”, disse padre S.

em tom conclusivo. “Uma humanidade que abdicou do seu direito de

nascimento, que esqueceu a própria integridade, inventa a morte para pôr fim

à sua miséria. O ser humano prefere morrer a assumir a imensa tarefa de

vencer a si mesmo, a sua incompletude... Todavia, a morte não é uma

solução: o ser humano sempre retorna ao ponto que deixou.” Lupelius cria,

então, The School for Gods, uma Escola de responsabilidade, para indicar ao

ser humano fragmentado, o ser humano esparso, a via de retorno à

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