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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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coroa de um rei ou a túnica de um monge, Lupelius vestia-as ou fazia seus

discípulos vestirem-nas, ensinando-lhes como tornar-se aquele papel, a fim

de explorar e conhecer dele cada ângulo, cada segredo, mas sem esquecerem

do jogo, sem nunca se tornarem prisioneiros dele. Levava-os aos souks e os

envolvia em negociações terríveis com bandidos e criminosos; fazia-os se

embrenharem nas zonas de maior sofrimento da humanidade; incitava-os às

viagens mais desafiadoras e aflitivas, sem quase possibilidade de retorno. Os

lupelianos alistavam-se como mercenários em guerras absurdas, em

revoluções e retaliações entre países distantes, cujas regiões nem ao menos

conheciam. Saíam em campo não para defender os fracos e oprimidos, não

para afirmar princípios ou ideologias, não para vencer em combate inimigos

estrangeiros ou punir o ofensor, mas para se tornar donos de si mesmos,

artífices do próprio destino.

REAIS GUERREIROS NÃO LUTAM PELA SUPREMACIA OU PELA HEGEMONIA SOBRE

OS OUTROS; NÃO LUTAM PELA GLÓRIA, NEM PELAS POSSES OU RECOMPENSAS, MAS PARA

GANHAR A ÚNICA COISA QUE REALMENTE IMPORTA: A PRÓPRIA LIBERDADE INTERIOR.

O ensinamento de Lupelius era uma disciplina da invulnerabilidade

com base no desenvolvimento da vontade. Seu objetivo era que seus

discípulos obtivessem a liberdade em cada limite. Livres, sempre, de todas as

condições humanas e limitações naturais, os lupelianos exercitavam-se na

arte do domínio de si.

A vitória suprema é vencer a si mesmo, não permitir que nenhum fato

ou circunstância machuque ou arranhe internamente o ser. Lupelius treinavaos

a manterem a serenidade e a calma sob as condições mais extremas.

Estimulava-os a irem ao encontro da ofensa e do ataque para provar a própria

integridade. Mesmo atravessando as cidades e as zonas mais castigadas por

epidemias e pragas, saíam incólumes. A incorruptibilidade e a pureza tornam

um guerreiro invulnerável, inatacável até pelos males mais temíveis, dizia.

Tratei de entrar na questão da diferença entre a impassibilidade –

apatheia – pregada pelos estóicos, e a indiferença da alma em relação às

paixões e aos pensamentos externos da mística lupeliana. Para Lupelius, a

impassibilidade é conferida pela recuperação da integridade, aquela unidade

do ser que é uma condição natural e da qual o ser humano se esqueceu. Do

vazio que a alma cria, ao se liberar dos pesos das coisas exteriores e carnais –

sem mais a ilusão de que existe algo fora de nós –, nasce um estado de ser

que é um contínuo, um natural movimento em direção à eternidade, à

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