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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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oprimidos, mas como um teste de resistência para expressar na batalha suas

conquistas interiores como verdadeiros conquistadores da morte. A disciplina

lupeliana não preparava pessoas para darem suas vidas e se tornarem mártires

ou heróis em nome de alguma ideologia ou fé, mas pelo único propósito de

abrir um portal para a imortalidade, primeiro em seus corações, e

consequentemente, em seus corpos físicos.

Enxames de flechas caíam ao nosso redor, em ondas mortíferas, e eu

observava o milagre da nossa segurança enquanto soldados e cavaleiros

montados caíam em volta às centenas. A batalha alcançara o seu paroxismo.

No centro do exército, mil bandeiras vitoriosas desfraldadas, eu atravessava

as águas revoltas do Granico, nos portões da Ásia, perseguindo o inimigo em

retirada. Em cada fibra eu sentia a coragem, a certeza, o senso de vitória que

pulsara nas veias dos heróis desde o princípio do mundo, e por uma fração de

segundo conheci a inefável alegria de um imortal.

Foi quando uma flecha, mais veloz que o vento e afiada como

navalha, me atingiu, decepando o lóbulo da orelha e deixando uma dor atroz.

Senti como um lembrete da minha vulnerabilidade, um aviso de morte. De

repente o vento mudou. Ouvi o galope trovejante de um cavalo de batalha,

precedendo a aparição de um enorme cavaleiro do meio da névoa. Sua

armadura faiscava à luz do fogo. Ele se aproximou de mim, fazendo o cavalo

empinar, tão próximo que um dos cascos passou raspando perto do meu

rosto. Eu desloquei meu peso para trás, a tempo de evitar o golpe. Senti a

inevitabilidade da derrota e minha resignação antes mesmo do mudo uivo de

terror surgir dentro de mim. Com um rápido movimento, Ele tirou seu

capacete e jogou-o longe, fazendo-o voar como um pássaro mecânico, e então

puxou a espada. O longo cabelo cinza estava solto e ondulando ao vendo, e

agora eu reconhecia Ele. Esse inimigo mortal era Ele: o Dreamer. Não havia

expressão em seu rosto, apenas uma faísca nos olhos, quando Ele ergueu a

espada para me golpear. Senti a lâmina penetrar fundo na minha carne. A

miríade de fragmentos que compuseram minha vida até esse momento se

fundiram, e aqueles retalhos de mim emitiram um grito em uníssono antes de

sua certa extinção. Com sofreguidão pus as mãos em torno do meu pescoço,

numa desesperada tentativa de unir flancos daquela ferida mortal e

interromper o golfo de sangue. Daquele mundo pulsante com épico e morte,

com heroísmo e tragédia, eu caí de volta na irrealidade do tribunal.

Todos me olhavam, aguardando minha próxima jogada.

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