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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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incontrolada, havia permanentemente um oceano imóvel; atrás da severidade

do Seu olhar mantinha-se encoberta uma serenidade esfíngica que me

aterrorizava mais que Suas ameaças. Foi questão de um instante, para que,

em seguida, Seu rosto retomasse a careta feroz do predador.

Os outros são você!, disse. Sua voz chegou calma, mas isso não me

tranquilizou. O mundo é assim porque você é assim, e não vice-versa.

Não escape! O visível serve para reconhecer o invisível. Os outros

servem para revelar-lhe aquilo que você não quer ver em si mesmo... ‘O que

projeta em mim tudo isto?’ Esta é a pergunta que dirige a si mesmo uma

pessoa de bem!

Observei e escutei você. Você é indeciso, prolixo... A confusão está

em você, não nos outros, retomou, alongando imperceptivelmente Seu corpo

sobre a mesa. O mundo manifesta-se duvidoso, caótico, irresponsável, para

atestar o que você sabe, onde você está.

A cada telefonema, quem quer que seja do outro lado,

inevitavelmente você pergunta: ‘Atrapalho?’.

No momento em que o Dreamer fazia essa observação, dei-me conta

de que era exatamente assim. Entretanto, ainda não entendia que importância

aquele aspecto pudesse ter. “Atrapalho?” era uma pergunta de praxe. Sempre

a ouvi distraidamente e a considerava nada mais que uma expressão social de

cortesia, um sinal de respeito pela privacidade dos outros, especialmente no

caso de um superior.

‘Atrapalho?’ é uma expressão que usam com você porque o sentem

despreparado. O mundo, os outros, reflete você... é um espelho que reproduz

a imagem de uma pessoa lenta, que fala muito e bravateia. ‘Atrapalho?’

significa sua falta de responsabilidade. ‘Atrapalho?’ é porque você não

oferece clareza. ‘Atrapalho?’ é o mundo que denuncia você.

Trimmm! O telefone tocou outra vez.

Atendi e mecanicamente perguntei: “Quem é?”.

Nem bem completei aquela usual pergunta, e a voz do Dreamer

ressoou ainda mais terrível que antes. ‘Alô, quem sou?’ deve dizer, não

‘quem é?’ Estava enfurecido. ‘Quem sou eu?’, insistiu, continuando a gritar.

Assim responde ao telefone quem entendeu que do outro lado encontra

sempre a si mesmo!

Eu escutava o Dreamer e ao mesmo tempo tentava assegurar um

mínimo de normalidade à conversação telefônica apenas iniciada.

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