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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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do Agora, e você será livre. No Agora não há derrota - apenas vitória.

Nesse ponto Fiorello começou a cantar numa bela voz de tenor. A

ária do último ato de Turandot de Puccini, quando o príncipe desconhecido,

apaixonado pela bela mas cruel Turandot, afirma sua vitória: “Tramontate,

stelle! All’alba vincerò... vincerooooò...”52 Fiorello continuava a cantar,

dando olhadas para mim, divertindo-se com a minha surpresa e esperando

aprovação. Mas a singular coincidência dessa canção de vitória com as

palavras do Dreamer, em justaposição aos meus pensamentos derrotistas, me

lançou num estado de agitação. Percebi que este homem corpulento com o

nome bonitinho estava encaixado entre o assento e o guidão de seu táxi. Ele

preenchia tão completamente o espaço com a gelatinosa massa do seu corpo

que parecia parte integrante do táxi, e jamais seria capaz de sair dele. Quando

olhei para ele com mais precisão pelo espelho retrovisor, vi que ele olhava

para mim, e senti o sangue gelar nas veias. Aqueles olhos nada tinham a ver

com aquele rosto gordo. Era como se um alienígena tivesse tomado o corpo

desse bom homem, e agora me estudava. Minha testa ficou molhada de suor,

tentei engolir, mas minha saliva se tornara algo pegajoso, borrachudo e me

sufocava. Eu via uma obscura ameaça naqueles olhos... expressando

sagacidade e uma calma ferocidade... Aqueles olhos dos quais não conseguia

fugir, aqueles olhos que me penetravam... aqueles eram os olhos do Dreamer.

Senti como se de repente fosse despertado de um sono ancestral. Obedeci ao

Seu chamado e mudei meus planos.

“Esqueça aquele endereço”, disse a Fiorello, que parara de cantar e

também, para o meu alívio, parara de olhar para mim. Eu não ia encontrar

com ninguém, pelo menos não com o advogado para discutir meu divórcio,

nesse estado. Num rodamoinho de pensamentos, conforme o táxi continuava

sem destino, eu reunia febrilmente as peças daquele dia. Vi que desde os

primeiros raios da aurora, quando sentira aquele tremor premonitório na

minha pele ao ler as palavras do Dreamer, até esse exato momento, fora uma

sucessão de passos, um itinerário no qual cada evento, encontro e

pensamento, cada minúsculo detalhe, havia sido um degrau de uma escada

invisível que me traria até Ele. Eu nunca senti desejo tão intenso de vê-Lo. Eu

teria me desdobrado para alcançá-Lo em qualquer parte do mundo, se ao

menos soubesse onde. Num instante de estonteante, inesperada luz, do âmago

do caleidoscópio das centenas de lugares em que encontrei o Dreamer, uma

imagem explodiu dentro de mim. Agora eu sabia onde eu ouvira Ele dizer as

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