inquérito ao sector do livro parte i - Observatório das Actividades ...
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fornecimento de serviços criativos (publicidade e marketing, por exemplo), veem reafirmar‐se<br />
propriedades entretanto aponta<strong>das</strong> a propósito <strong>das</strong> indústrias culturais. Mostran<strong>do</strong> semelhanças<br />
com a proposta <strong>do</strong>s art worlds de Howard Becker (1984[1982]), ambos <strong>parte</strong>m da ideia de<br />
produção de obras artísticas num quadro de ação coletiva (examinan<strong>do</strong> a interdependência e<br />
colaboração <strong>do</strong>s diversos agentes na cadeia produção‐difusão‐receção). Caves centra‐se em<br />
igual medida na instabilidade e incerteza relativas <strong>ao</strong>s riscos económicos <strong>das</strong> atividades criativas,<br />
algo que está na génese <strong>do</strong>s apoios públicos que a elas são dirigi<strong>do</strong>s. Em termos comerciais tal<br />
incerteza e risco seriam geri<strong>do</strong>s e atenua<strong>do</strong>s mediante a elaboração conjunta de contratos,<br />
asseguran<strong>do</strong> uma negociação de recompensas capaz quer de contemplar as diferentes aptidões<br />
e/ou capacidades, quer de assegurar o cumprimento <strong>do</strong>s objetivos e compromissos delinea<strong>do</strong>s<br />
pelos vários agentes <strong>do</strong> <strong>sector</strong> envolvi<strong>do</strong>s no processo. Preocupan<strong>do</strong>‐se com a singularidade <strong>do</strong>s<br />
rendimentos provenientes <strong>do</strong>s produtos da atividade criativa (uma <strong>das</strong> propriedades defini<strong>do</strong>ras<br />
<strong>das</strong> indústrias criativas) e com a durabilidade desses mesmos benefícios, a reflexão de Caves<br />
mostra‐se extremamente oportuna se se pensar em to<strong>das</strong> as lógicas associa<strong>das</strong> no <strong>sector</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>livro</strong> <strong>ao</strong>s direitos de autor, desde a sua negociação <strong>ao</strong>s respetivos intermediários, às formas de<br />
recolha <strong>das</strong> receitas daí provenientes e, mais recentemente, às novas fórmulas contratuais<br />
desenvolvi<strong>das</strong> com vista a garantir os direitos conexos <strong>das</strong> obras.<br />
Neste balanço <strong>das</strong> influências teóricas, importa ainda salientar duas outras referências<br />
sociológicas privilegia<strong>das</strong> desde o início da pesquisa. Uma é a perspetiva de produção de cultura<br />
(Peterson e Anand, 2004), cujas seis dimensões adquiriram especial relevância até para a própria<br />
preparação <strong>do</strong> guião <strong>das</strong> entrevistas a realizar com os agentes <strong>do</strong> <strong>sector</strong>. A tentativa de estudar<br />
um campo de produção cultural como o <strong>sector</strong> <strong>do</strong> <strong>livro</strong> insistin<strong>do</strong> em percorrer aspetos de certa<br />
forma suscita<strong>do</strong>s pela (inovação da) tecnologia, pelas grandes orientações em matéria de<br />
políticas públicas (culturais, educativas, económicas…), pelo merca<strong>do</strong>, pelas ocupações, pela<br />
estrutura organizacional (consideran<strong>do</strong> diferenciações funcionais, hierarquias de<br />
funcionamento) ou pela estrutura da indústria (<strong>do</strong> ponto de vista <strong>das</strong> ramificações e integrações<br />
na gestão da cadeia <strong>do</strong> <strong>livro</strong>), é por demais evidente da utilidade e vertente referencial deste<br />
modelo específico.<br />
Valerá a pena, por fim, deixar regista<strong>do</strong> um outro conceito, o de regimes de informação de<br />
merca<strong>do</strong>, teoriza<strong>do</strong> igualmente por Richard A. Peterson e também por N. Anand ten<strong>do</strong> como<br />
objeto o <strong>sector</strong> da música (Anand e Peterson, 2000), mas cujo alcance analítico não se esgota<br />
nesse ou noutro qualquer <strong>sector</strong> cultural, como aliás bem mostraram Kurt Andrews e Philip<br />
Napoli na aplicação <strong>ao</strong> <strong>sector</strong> <strong>do</strong> <strong>livro</strong> (Andrews e Napoli, 2006), num estu<strong>do</strong> esclarece<strong>do</strong>r de<br />
como a apreensão e conhecimento de qualquer merca<strong>do</strong> (incluin<strong>do</strong> o <strong>do</strong> <strong>livro</strong>, obviamente)<br />
ocorre mediante a criação, difusão e interpretação da informação propositadamente compilada<br />
sobre e para ele. Independentemente da forma assumida, sabe‐se como a informação reduz o<br />
grau de incerteza <strong>do</strong>s agentes relativamente <strong>ao</strong> merca<strong>do</strong>. A necessidade de um regime de<br />
informação, que ajude à consolidação económica e industrial <strong>do</strong>s campos culturais (aqui<br />
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