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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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análise da promessa que Ricoeur desenvolve, que não t<strong>em</strong> outro fim senão o de adentrar o<br />

campo da solicitude, para identificar nele a presença da sabedoria prática.<br />

Se a fidelidade consiste <strong>em</strong> responder à expectativa do outro que conta<br />

comigo, é essa expectativa que devo tomar como medida da aplicação da<br />

regra. Uma outra espécie de exceção <strong>em</strong> favor do outro. A sabedoria prática<br />

consiste <strong>em</strong> inventar as condutas que mais satisfarão à exceção que requer a<br />

solicitude traindo o menos possível a regra 300 .<br />

O autor apresenta os ex<strong>em</strong>plos da “vida acabando” e da “vida começando” para<br />

ilustrar a aplicação da sabedoria prática. Quanto ao primeiro, que se refere à verdade a ser dita<br />

às pessoas moribundas, duas atitudes básicas se contrapõ<strong>em</strong>: dizer a verdade<br />

incondicionalmente, s<strong>em</strong> avaliar as capacidades de recepção dessa verdade pelo doente; ou<br />

mentir, movido pelo receio de piorar a agonia do moribundo. Em meio a isso, a sabedoria<br />

prática reclama reflexão sobre a relação felicidade-sofrimento, inventando atitudes pertinentes<br />

à singularidade dos casos, considerando que “uma coisa é enunciar a doença, uma outra,<br />

revelar o grau de gravidade dela e a pouca probabilidade de sobrevida, uma outra, desferir a<br />

verdade clínica como uma condenação à morte” 301 .<br />

O ex<strong>em</strong>plo da “vida começando” adentra o campo da bio-ética e é de ord<strong>em</strong> mais<br />

complexa, porque subsume considerações ontológicas referentes à pergunta sobre que espécie<br />

de seres são os <strong>em</strong>briões. Nesse caso, as posições que se extr<strong>em</strong>am provêm daqueles que<br />

lançam mão do critério biológico, segundo o qual se une radicalmente a pessoa à vida e se<br />

postula o direito à “probabilidade de vida” do <strong>em</strong>brião – subjazendo, aí, uma ontologia<br />

substancialista ligada a uma teologia para a qual somente Deus é mestre da vida; e daqueles<br />

que somente consideram pessoa, no sentido forte, os indivíduos adultos, como é próprio do<br />

ponto de vista pragmático, firmado numa ontologia progressiva – que vê no <strong>em</strong>brião um ser<br />

<strong>em</strong> desenvolvimento, uma pessoa <strong>em</strong> potencial. Perante tal <strong>em</strong>bate, o julgamento prudencial<br />

conjuga a ciência – que descreve as propriedades desse ser e que avança nas técnicas – com a<br />

apreciação dos direitos e deveres para com esse ser. Também é considerado o “princípio<br />

responsabilidade”, que Hans Jonas identificava com a ação de pesar os riscos <strong>em</strong> relação às<br />

futuras gerações 302 .<br />

300<br />

RICOEUR, O si-mesmo como um outro, p.314.<br />

301<br />

Id., p.315.<br />

302<br />

“Em tal sentido, a reticência, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> matéria de manipulação de <strong>em</strong>briões supranumerários, não é<br />

forçadamente atributo dos defensores do “direito à vida” dos <strong>em</strong>briões humanos. Ela faz parte daquela sabedoria<br />

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