subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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texto fala justamente do agir e do padecer humano. Pela escritura, as ações se objetivam e se<br />
fixam, superando os limites contextuais de seu acontecimento; da mesma forma, a ação se<br />
libera do seu agente devido aos efeitos que ela produz, os quais superam as intenções queridas<br />
e previstas pelo agente, constituindo a dimensão social da ação. Muitas ações entrelaçadas se<br />
fixam no t<strong>em</strong>po e são escritas nos documentos que depositam a m<strong>em</strong>ória de um povo e<br />
permit<strong>em</strong> que uma ação possa ser retomada e recontextualizada – oportunidade essa oferecida<br />
a “qualquer um que saiba ler”. Destarte,<br />
[...] como um texto, assim a ação humana é uma obra aberta, cuja<br />
significação está ‘<strong>em</strong> suspensão’. É porque essa ‘abre’ umas novas<br />
referências e delas recebe uma pertinência nova que também os atos<br />
humanos estão <strong>em</strong> espera de novas interpretações que decid<strong>em</strong> sobre sua<br />
significação 227 .<br />
É, pois, pela noção de “obra” que a teoria da ação se aproxima da teoria do texto.<br />
Como esse constitui uma “composição” de frases conectadas pelo “gênero” e pelo “estilo”,<br />
assim também é uma “ação significativa” – termo inspirado por Weber – porquanto essa ação<br />
conserva s<strong>em</strong>elhante configuração: compõe-se de várias ações que significam algo tanto ao<br />
agente quanto ao paciente; submete-se a códigos de produção e de interpretação; exibe o<br />
caráter único do agente <strong>em</strong> sua individualidade, com seus vícios e virtudes 228 . É nesse âmbito<br />
de inter<strong>subjetividade</strong> – con-texto, porque um texto escrito com os outros – que se faz possível<br />
encontrar o eu “prático” <strong>em</strong> seu “<strong>em</strong>penho ontológico”, pelo qual se compreende o “eu<br />
sou” 229<br />
Quanto à questão do meio no qual as ações se fixam, <strong>em</strong> The model of the text<br />
(1971), Ricoeur afirma que nas ações significativas o significado ultrapassa o acontecimento,<br />
de modo que permanece o conteúdo proposicional dessas ações, que se fixa através da<br />
narrativa no meio social. S<strong>em</strong>elhante ao texto, a ação se separa de seu autor e desenvolve<br />
conseqüências próprias, produzindo sentidos diferentes daqueles originais – como os novos<br />
mundos que um texto abre – o que confere um caráter aberto às ações, ou seja, torna-as<br />
passíveis de novas interpretações. É devido a essas características pertinentes às ações<br />
significativas que o autor assevera que as ciências humanas são hermenêuticas; da mesma<br />
forma são os grupos de discussão ética ao debater sobre uma certa ação. Importa ainda<br />
227 RICOEUR, Do texto à ação apud IANNOTTA, op. cit., p.38.<br />
228 Cf. KLEIN, op. cit., p.196-200.<br />
229 Cf. IANNOTTA, op. cit., p.39s.<br />
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