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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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voz que diz “tu não matarás”. Para Ricoeur, diante dessa distância absoluta entre o Mesmo e o<br />

Outro, somente uma ipseidade definida pela abertura poderia explicar a acolhida pelo eu do<br />

“tu não matarás” saído do outro. Ao final da confrontação entre Husserl e Lévinas, Ricoeur<br />

conclui que<br />

109<br />

[...] não há nenhuma contradição por considerar como dialeticamente<br />

compl<strong>em</strong>entares o movimento do Mesmo para o Outro e o do Outro para o<br />

Mesmo. Os dois movimentos não se anulam uma vez que um se desenvolve<br />

na dimensão gnosiológica do sentido, o outro, na ética da injunção. A<br />

destinação à responsabilidade, de acordo com a segunda dimensão, r<strong>em</strong>ete<br />

ao poder de autodesignação, transferido, conforme a primeira dimensão, a<br />

toda a terceira pessoa supostamente capaz de dizer “eu” [sic] 332 .<br />

3.3.3.3 – Alteridade da consciência: o ser-imposto<br />

Por fim, na última significação da alteridade, Ricoeur trata o t<strong>em</strong>a da consciência<br />

– no sentido que Heidegger atribuía à Gewissen, consciência moral. Ricoeur não deixa de<br />

reconhecer que é um t<strong>em</strong>a cheio de ciladas, sobretudo porque o fenômeno da consciência está<br />

ligado à atestação – na qual se confund<strong>em</strong> ser-verdadeiro e ser-falso 333 – <strong>em</strong> que a metáfora<br />

da “voz da consciência” surge como uma alteridade peculiar, ao mesmo t<strong>em</strong>po interior e<br />

superior ao si. Diante dela, Hegel e Nietzsche adotaram uma perspectiva de suspeita, tomando<br />

a consciência como “má consciência”. Heidegger, <strong>em</strong> contrapartida, desmoralizou a<br />

consciência e tomou-a como um apelo que sai do Dasein e, não obstante o supera – um traço<br />

de “estran(h/geir)eza” – e o convoca ao ser-<strong>em</strong>-dívida – não <strong>em</strong> relação ao outro, mas <strong>em</strong><br />

relação ao poder-ser mais conveniente 334 .<br />

Como as duas alternativas exclu<strong>em</strong>, respectivamente, o fenômeno da atestação e o<br />

da injunção, Ricoeur propõe uma nova significação da alteridade própria à consciência: o<br />

“ser-imposto” no qual se encontra a metáfora da voz unida à tríade ética: o chamado ético de<br />

“viver b<strong>em</strong> com e para o outro nas instituições justas” (como ilustra o “Tu, ama-me!” do<br />

Cântico dos cânticos); a lei (expressa pelo “Tu não matarás”) e a convicção (quando o si, no<br />

trágico da ação, diz: “Aqui eu me detenho! Não posso de outro modo”!) – que permite a<br />

332 RICOEUR, O si-mesmo como um outro, p.396.<br />

333 “A consciência é na verdade o lugar por excelência <strong>em</strong> que as ilusões sobre si-mesmo são intimamente<br />

misturadas à veracidade da atestação”. Id., p.397.<br />

334 Cf. Id., p.397-408.

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