subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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S<strong>em</strong> [...] diálogo com as ciências, a filosofia corre o risco de se enclausurar<br />
numa reflexão narcisista, fascinada pela questão de sua morte e da sua<br />
sobrevivência. Em contrapartida, <strong>em</strong> favor desse diálogo, a filosofia pode<br />
assegurar o seu próprio futuro, ajudando simultaneamente os cientistas a<br />
reflectir [sic] sobre o duplo estatuto de epist<strong>em</strong>e e de tekhne da sua<br />
ciência 101 .<br />
Com isso, poder-se-ia questionar qual seria o lugar da Filosofia se, com a<br />
explicação ou a compreensão, tudo seria âmbito da ciência. Isso, porém, não acontece quando<br />
se põe a pergunta pelo sentido. Importa, pois, assumir a compreensão como foi pensada por<br />
Heidegger, como interrogação sobre tudo o que compõe a experiência: o eu, o mundo, Deus.<br />
Explicação e compreensão relacionam, pois, não como exclusivas uma <strong>em</strong> relação à outra,<br />
mas articuladas num mesmo processo de interpretação, tanto na dimensão epist<strong>em</strong>ológica<br />
(enquanto há continuidade e descontinuidade de métodos), quanto na dimensão ontológica<br />
(pois a verdade não se dissolve na incerteza) 102 .<br />
É no texto que ambas se articulam de forma privilegiada, pois, <strong>em</strong>bora a<br />
linguag<strong>em</strong> seja o lugar da articulação sist<strong>em</strong>ática de sinais (S<strong>em</strong>iótica) e isso se dê<br />
autonomamente, é pelo discurso que se desenvolve tal articulação, o que indica que a<br />
linguag<strong>em</strong> não é fim a si mesma, mas organização de mensagens – as quais exprim<strong>em</strong><br />
compreensões. Assim, o estudo dos signos ajuda a despsicologizar a interpretação, que, por<br />
sua vez, liga o sist<strong>em</strong>a de sinais à vida, abrindo-o à transcendência, de modo que<br />
compreensão e explicação não são estranhos. Vida e ciência pod<strong>em</strong> coabitar s<strong>em</strong> se<br />
confundir 103 .<br />
2.1.2 – Hermenêutica e ontologia<br />
A preocupação ontológica perpassa toda a obra de Ricoeur: a existência humana é<br />
t<strong>em</strong>a constante <strong>em</strong> suas investigações. O foco é, pois, o desvelamento do sujeito a si mesmo e<br />
a compreensão do ser <strong>em</strong> geral, não s<strong>em</strong> antes partir da reflexão mediatizada desse mesmo<br />
sujeito – “passando pela análise dos signos, dos símbolos e dos textos, incluindo estes a<br />
linguag<strong>em</strong>, a acção [sic], a narração”, como se pode constatar no sumário de O si-mesmo<br />
101 RICOEUR In: HAHN, Lewis Edwin (dir.). A filosofia de Paul Ricoeur. 16 ensaios críticos e respostas de Paul<br />
Ricoeur aos seus críticos. Lisboa: Instituto Piaget, 1995, p.11.<br />
102 Cf. IANNOTTA, op. cit., 32s.<br />
103 Cf. Id., p.34; RICOEUR, Teoria da interpretação, p.98s.<br />
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