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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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procedimento iniciado por Ferdinand de Saussure <strong>em</strong> Cours de linguistique général a partir da<br />

distinção entre a linguag<strong>em</strong> como langue e como parole 157 , que passou a ser aplicado também<br />

a textos inteiros, como o fez Claude Lévi-Strauss com os mitos. Como os sist<strong>em</strong>as s<strong>em</strong>ióticos<br />

são fechados, a linguag<strong>em</strong> deixou de ser tratada como mediação entre a mente e as coisas e<br />

passou a constituir um mundo próprio e auto-suficiente. Nesse momento, Ricoeur diz que ela<br />

“desapareceu como discurso” 158 .<br />

Ricoeur se nega, pois, à redução da linguag<strong>em</strong> nos moldes de um objeto definível<br />

totalmente pelos métodos científicos, como pretendia a análise lingüística. Para ele, há algo<br />

no uso da linguag<strong>em</strong> que excede os limites de um mero objeto: o caráter mediador da<br />

linguag<strong>em</strong>. Eis a sua razão:<br />

Para nós que falamos, a linguag<strong>em</strong> não é um objeto, mas uma mediação. E<br />

isso <strong>em</strong> um tríplice sentido: primeiramente ela é a mediação do hom<strong>em</strong> com<br />

o mundo, representa aquilo através do qual, por meio do qual nós<br />

exprimimos a realidade, a representamos, <strong>em</strong> suma t<strong>em</strong>os um mundo. A<br />

linguag<strong>em</strong> é depois mediação entre hom<strong>em</strong> e hom<strong>em</strong>. [...] O diálogo, o<br />

diss<strong>em</strong>os, é como um jogo de pergunta e resposta, a mediação final entre<br />

uma pessoa e uma outra pessoa. Enfim, a linguag<strong>em</strong> é mediação de si<br />

consigo mesmo. É mediante o universo dos signos, dos textos, das obras<br />

culturais que nos autocompreend<strong>em</strong>os 159 .<br />

Essa tríplice mediação é sintetizada na fórmula como Ricoeur define o ato de<br />

falar: “intenção de dizer algo sobre alguma coisa a alguém” 160 . O autor serve-se de Benveniste<br />

para sublinhar o caráter intencional do discurso, isto é, o fato de dizer alguma coisa sobre<br />

algo. Nesse aspecto, importante é considerar que somente palavras isoladas não pod<strong>em</strong><br />

revelar o sentido, mas sim uma frase tomada globalmente 161 .<br />

157<br />

Para Saussure, “langue é o código ou o conjunto de códigos – sobre cuja base falante o particular produz a<br />

parole como uma mensag<strong>em</strong> particular”. Enquanto o código é coletivo, sincrônico, virtual, anônimo (nãointencional)<br />

e inconsciente, a mensag<strong>em</strong> é individual, diacrônica (um evento e, pois, atual), transitória,<br />

intencional e consciente. Cf. Id., Filosofia e linguaggio, p.09s; Id., Teoria da interpretação, p.15.<br />

158<br />

RICOEUR, Teoria da interpretação, p.15-18. Ricoeur assevera que é próprio do mito girar <strong>em</strong> torno das<br />

aporias da existência; caso contrário, ele seria uma narrativa “estéril” e “uma necrologia dos discursos<br />

insignificantes da humanidade”. Cf. Id., p.98s; IANNOTTA, op. cit., p.34s.<br />

159<br />

RICOEUR, Filosofia e linguaggio, p.08.<br />

160<br />

Cf. Id., grifo do autor.<br />

161<br />

À distinção entre langue e parole Ricoeur propõe aquela entre o signo e a frase, considerando-as duas<br />

unidades irredutíveis da linguag<strong>em</strong>. Destarte, ele propõe uma separação entre S<strong>em</strong>iótica e S<strong>em</strong>ântica: uma que<br />

versa sobre a virtualidade do signo e a outra que trata da frase, a qual “compõe-se de signos, mas <strong>em</strong> si mesma<br />

não é um signo”. Assim, por tratar da frase, somente a S<strong>em</strong>ântica diz respeito ao sentido. Cf.RICOEUR, Teoria<br />

da interpretação, p.18-20. Ricoeur afirma que “a frase não é uma palavra mais longa ou mais complexa, é uma<br />

nova entidade lingüística” porque o símbolo t<strong>em</strong> a função de distinção, e a frase, de síntese (função predicativa).<br />

Cf. Id., Filosofia e linguaggio, p.09.<br />

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