subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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Ricoeur relaciona à epoché fenomenológica do mundo o distanciamento<br />
hermenêutico: do mesmo modo que se deve colocar-se à distância do vivido para que esse se<br />
torne significativo, também a tradição histórica deve ser afastada para chegar à consciência da<br />
participação. O outro aspecto do “enxerto” da hermenêutica na fenomenologia é o retorno do<br />
primado da visão 133 , que se volta à recuperação do eu naquilo <strong>em</strong> que ele próprio se atua, se<br />
encarna e se realiza, isto é, nos signos, de forma a descobrir esse ser que, concomitant<strong>em</strong>ente,<br />
já é dado, mas não ainda. Eis, o que Iannotta chama de “o paradoxo da ontologia <strong>ricoeur</strong>iana”<br />
que subsume a estrutura do ato e da potência na constituição do ser-no-mundo 134 .<br />
2.3 – A FILOSOFIA REFLEXIVA<br />
Em todas as investigações de Ricoeur, uma mesma questão subjacente merece<br />
destaque: a pergunta filosófica que envolve o próprio questionador, o qual, ao perguntar,<br />
acaba se envolvendo no questionamento e encontra a si mesmo como introdução à resposta. É<br />
esse o “estilo reflexivo” da filosofia, que o autor prefere chamar de “reflexão concreta”,<br />
aludindo a um sujeito que se entende no contexto da participação humana. Se a filosofia<br />
reflexiva nascera com Descartes e fora seguida por Kant, Fichte, Husserl e neokantianos<br />
(como Nabert), com Ricoeur ela assume outra conotação:<br />
[...] a possibilidade da compreensão de si como o sujeito das operações de<br />
conhecimento, de volição, de apreço, e assim por diante. A reflexão é esse<br />
ato de retorno sobre si mediante o qual um sujeito reencontra na clareza<br />
intelectual e na responsabilidade moral o princípio das operações entre as<br />
quais se dispersa e se esquece como sujeito 135 .<br />
Reflexão para Ricoeur t<strong>em</strong>, pois, uma referência clara: reflexão do sujeito sobre si<br />
mesmo – isto é, o “ato de retorno a si”, como afirma <strong>em</strong> sua obra Do texto à ação 136 . Daí,<br />
contudo, pode-se perguntar sobre o que é de fato esse sujeito – que o autor prefere chamar de<br />
“si”, para enfatizar o valor reflexivo. Em Descartes, a posição do si é “uma verdade que se<br />
133 Para o método fenomenológico de Husserl, o conhecimento de algo qualquer deveria ocorrer pelo<br />
conhecimento do que esse algo deixa manifestar-se ao sentidos do pesquisador, e tal processo ocorreria s<strong>em</strong>pre<br />
perspectivamente. O pesquisador seria, pois, alguém que se move <strong>em</strong> torno desse algo para, no ato mesmo de<br />
procurar, compreender os aspectos revelados. Cf. GARNICA, Antonio Vicente Marafioti. Considerações sobre a<br />
fenomenologia hermenêutica de Paul Ricoeur. Trans/form/ação (Revista de Filosofia UNESP), São Paulo, v.16,<br />
1993, p.45.<br />
134 IANNOTTA, op. cit., p.26s.<br />
135 RICOEUR apud IANNOTTA, op. cit., p.12, grifo do autor.<br />
136 Cf. GAMA, op. cit., p.389.<br />
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