18.04.2013 Views

subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

3.2.1 – A perspectiva ética<br />

Longe de supor na perspectiva ética “um campo livre à efusão dos ‘bons’<br />

sentimentos”, Ricoeur esclarece que ela corresponde à “perspectiva da ‘vida boa’ com e para<br />

outros nas instituições justas” – subsumindo-se as esferas do autor das ações, dos outros, das<br />

instituições. Eis o centro <strong>em</strong> torno do qual gravitam todas as abordagens éticas e morais<br />

realizadas pelo autor. É <strong>em</strong> Aristóteles, sobretudo na obra Ética a Nicômaco, que é buscada a<br />

fundamentação para esse primeiro momento 236 .<br />

3.2.1.1 – A estima de si<br />

O que Aristóteles assinalava por “vida boa” – “viver b<strong>em</strong>”, “vida verdadeira” – é<br />

tomada por Ricoeur para constituir o primeiro patamar pelo seguinte motivo:<br />

qualquer que seja a imag<strong>em</strong> que cada um faz para si de uma vida realizada,<br />

esse coroamento é o fim último de sua ação. É o momento de se l<strong>em</strong>brar da<br />

distinção que Aristóteles faz entre o b<strong>em</strong>, tal como o hom<strong>em</strong> o visa e o B<strong>em</strong><br />

platônico. Na ética aristotélica, só se pode tratar do b<strong>em</strong> para nós. Essa<br />

relação conosco não impede que ele esteja contido <strong>em</strong> algum b<strong>em</strong> particular.<br />

É de preferência o que falta a todos os bens. Toda ética supõe esse uso nãosaturável<br />

do predicado “bom” 237 .<br />

A ligação que Aristóteles promoveu entre a “vida boa” e a praxis resulta <strong>em</strong> um<br />

novo entendimento acerca desse termo: diferente da poiesis, a praxis t<strong>em</strong> a característica de<br />

ser fim <strong>em</strong> si mesma. Disso, porém, brota um paradoxo: o fato de a praxis ser fim <strong>em</strong> si<br />

mesma e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, tender a um fim último – a felicidade. Nisso, um entendimento<br />

mais complexo de deliberação – que foge do modelo meio-fim – é apresentado como a via<br />

pela qual o phronimos (hom<strong>em</strong> prudente, sábio) dirige sua vida: “o bom deliberador, no<br />

sentido absoluto, é o hom<strong>em</strong> que se esforça para atingir o melhor dos bens realizáveis para o<br />

hom<strong>em</strong>, e que o faz por raciocínio”, diz Aristóteles. Com a idéia de deliberação, chega-se a<br />

um conceito de importância radical no edifício ético <strong>ricoeur</strong>iano: a phronésis (sabedoria<br />

236 Cf. RICOEUR, O si-mesmo como um outro, p.202.<br />

237 Id., p.203.<br />

80

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!