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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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como um outro. É essa postura de uma aproximação indireta e crítica do sujeito que<br />

caracteriza a “via longa” <strong>ricoeur</strong>iana, o que justifica a autoria de “textos de rara profundidade<br />

e de elevada capacidade teórica de elucidação e de estímulo à reflexão”. Um fato que<br />

enriquece sua obra é a notável dialogicidade de Ricoeur com diversos autores, seja os mais<br />

atuais, seja os mais clássicos, o que o faz abordar as mais variadas áreas – Filosofia da<br />

linguag<strong>em</strong>, Teoria da ação, Teoria narrativa, Ética e Ontologia 104 .<br />

O pensamento <strong>ricoeur</strong>iano ainda pode ser enquadrado na tradição das filosofias do<br />

sujeito, muito <strong>em</strong>bora proponha mudanças sérias <strong>em</strong> seu programa, entre as quais a mais<br />

central delas é a contestação da “auto-fundamentação absoluta na consciência de si” – como<br />

pretendia Descartes 105 . Assim, ele propõe uma fundamentação “transgressiva”, que rompe<br />

com a exclusividade da linguag<strong>em</strong> lógico-formal da epist<strong>em</strong>ologia científica e sua pretensão<br />

de garantia veritativa e verificável do fundamento. É nesse ponto que o autor lança um<br />

estatuto epist<strong>em</strong>ológico original: a atestação (attestation), que é “aquela espécie de confiança<br />

ou de segurança (estatuto epist<strong>em</strong>ológico não dóxico) que qualquer um t<strong>em</strong> de ser (estatuto<br />

ontológico) sobre o modo do si (estatuto fenomenológico)” 106 .<br />

Ad<strong>em</strong>ais, Ricoeur desenvolve uma ontologia cuja metáfora é a da “terra<br />

prometida” que, nas narrativas da Bíblia cristã, é avistada por Moisés, mas não possuída por<br />

ele. Também lhe é peculiar o fato de apontar para um excesso de sentido na vida, que permite<br />

substituir o desespero do ser-para-a-morte pela positividade de um “ser-para-a-vida”. Cabe<br />

aqui uma sucinta e relevante leitura da ontologia <strong>ricoeur</strong>iana:<br />

Ontologia concreta e fragmentária, não autosuficiente mas aberta a. Aberta à<br />

infinidade transcendente dos horizontes, portanto, não fechada e limitada às<br />

estreitezas de um domínio. A via indireta da hermenêutica <strong>ricoeur</strong>iana se<br />

apresenta como a tarefa filosófica forte de pensar a totalidade e como a<br />

consciência crítica de não poder exauri-la com a absolutização de um<br />

104 Cf. GAMA, José. Hermenêutica da cultura e ontologia <strong>em</strong> Paul Ricoeur. Revista Portuguesa de Filosofia,<br />

Braga, tomo LII, jan.-dez. 1996, p.388. Tais áreas são as linhas-mestras de O si-mesmo como um outro. Essa<br />

interdisciplinaridade é própria dos hermenêuticos, que operam na chamada “razão hermenêutica”. Cf.<br />

SACADURA, op. cit., p.769.<br />

105 Cf. GAMA, op. cit., p.389; RANDI, Rui Teixeira. O probl<strong>em</strong>a do cogito: Descartes, Nietzsche e Ricoeur.<br />

Revista de Ética, Campinas, v.6, n.1, jan-jun. 2004, p.218. Em resposta ao artigo de Madison, Ricoeur nega que<br />

seu pensamento possa ser chamado “pós-metafísico”, pois considera muito estreita a acepção heideggeriana de<br />

metafísica. Cf. HAHN, op. cit., p.65.<br />

106 RICOEUR apud IANNOTTA, op. cit., p.47; cf. GAMA, op.. cit., p.381. Considero ser pertinente lançar a<br />

hipótese de que a “atestação” seria uma resposta a uma tarefa exposta no final da introdução de Ser e t<strong>em</strong>po que<br />

não fora concluída por Heidegger: estabelecer “o fundamento ontológico do ‘cogito sum’ de Descartes e a<br />

introdução da ontologia medieval na probl<strong>em</strong>ática da ‘res cogitans’”. Cf. HEIDEGGER, Ser e t<strong>em</strong>po, p.71.<br />

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