subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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Para Heidegger, o Dasein está tão envolvido <strong>em</strong> seu modo de ser que quase<br />
s<strong>em</strong>pre não o expressa ou t<strong>em</strong>atiza. Todos os acontecimentos na Lebenswelt (mundo da vida),<br />
porém, são pré-interpretados a partir da compreensão desse modo de ser, o que determina<br />
“como” cada coisa pode ser usada para certa finalidade. Esse momento pré-lingüístico<br />
permite, por ex<strong>em</strong>plo, que se utilize um certo objeto “como” meio para um determinado fim<br />
s<strong>em</strong> que seja necessário falar acerca desse objeto. O cuidado é, assim, aquilo que sustenta a<br />
compreensão – porque tudo importa ao Dasein – sobretudo o cuidado que ele t<strong>em</strong> por si<br />
próprio, o que o faz diferente de todos os d<strong>em</strong>ais entes. Outra constatação heideggeriana<br />
importante é que esse ser particular é um ser-lançado, ou seja, é um ser histórico que herda<br />
perspectivas de seus antecessores. Diante dos costumes e preconceitos, porém, há necessidade<br />
de esclarecimento, isto é, de interpretação 50 .<br />
Se, antes de Heidegger, a interpretação era meio para chegar à compreensão, com<br />
ele há uma inversão dos movimentos: o ser se compreende pelo cuidado com seu ser e, a<br />
partir de então, esclarece-se (interpreta-se) – elabora ou se apropria de sua compreensão. Em<br />
outras palavras, à interpretação cabe tornar a pré-compreensão transparente, já que tal<br />
compreensão é passível de equívocos. Assim, diante de um texto, o intérprete deveria antes de<br />
tudo ter transparente a própria situação hermenêutica, para livrar-se de preconceitos que<br />
pudess<strong>em</strong> desvirtuar o texto, que é estranho 51 .<br />
Na obra Hermenêutica da facticidade (1923), o autor afirmou que a hermenêutica<br />
teria a função de auto-interpretar a facticidade, ou seja, de manifestar as estruturas básicas do<br />
Dasein a caminho da autotransparência: “A hermenêutica t<strong>em</strong> a tarefa de tornar acessível cada<br />
específico ser-aí, <strong>em</strong> seu caráter de ser, a este mesmo ser-aí, uma possibilidade, a de tornar-se<br />
e de ser entendedor para si mesmo”. Ela seria caracterizada, então, como desconstrutora –<br />
enquanto destruidora da tradição que oculta a existência a si mesma – e teria uma função<br />
crítica, porque redutora da auto-alienação e das ideologias 52 .<br />
Sobr<strong>em</strong>aneira importante no pensamento heideggeriano é o modo como é tratada a<br />
linguag<strong>em</strong>, desde textos incipientes como Ser e t<strong>em</strong>po, até os mais tardios como<br />
Contribuições à Filosofia (1936) e a conferência T<strong>em</strong>po e ser (1962). Muito <strong>em</strong>bora tenha<br />
50 Cf. GRONDIN, op. cit., p.161-163.<br />
51 Cf. Id., p.163-167.<br />
52 Cf. Id., p.1168-170, grifo do autor.<br />
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