subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
É preciso, pois, conceber um sujeito cuja constituição subsuma as “distorções<br />
fundamentais da comunicação (...) ao mesmo título das ilusões da percepção na constituição<br />
da coisa”, isto é, um sujeito que é último <strong>em</strong> termos de conhecimento – já que o conhecimento<br />
é resultado da escuta do outro, que o situa na esteira da tradição. Eis, então, um ser<br />
historicamente condicionado, que se relaciona com a tradição de maneira que “oscila entre o<br />
distanciamento e a proximidade”. Nisso, o texto funciona como mediação de um<br />
distanciamento criativo 129 .<br />
Outro motivo que o conduz à via da interpretação é a investigação do sentido dos<br />
entes, porquanto s<strong>em</strong>pre que se pergunta sobre um ente qualquer, é sobre o sentido desse ente<br />
que se quer perguntar 130 . Se a fenomenologia se abre ao universo do sentido, a hermenêutica<br />
reconhece que tal sentido é dissimulado e, antes, articulado na linguag<strong>em</strong> – porquanto a<br />
experiência é dizível (idéia gadameriana da Sprachlichkeit, modo de ser linguag<strong>em</strong>). Por isso,<br />
Ricoeur lança mão do contato com as ciências da linguag<strong>em</strong>, o que supera a dicotomia entre<br />
as ciências naturais e as do espírito, entre método e verdade e entre explicação e compreensão.<br />
Não que, com isso, ele intentasse absolutizar a linguag<strong>em</strong>, mas porque essa é “o principal<br />
pressuposto fenomenológico da hermenêutica”, enquanto é capaz de fazer voltar ao nível pré-<br />
lingüístico da experiência. Em suma, a linguag<strong>em</strong> importa, porque faz referência a –<br />
referência essa que antecede o fato da enunciação 131 .<br />
Heidegger já subordinara o enunciado ao discurso existencial – que habita no<br />
mesmo plano da situação e da compreensão, que estruturam o ser-no-mundo. Na esteira de<br />
Heidegger e de Gadamer – <strong>em</strong>bora privilegiando o nível mediacional dos textos – Ricoeur<br />
afirma que<br />
a consciência de ser exposta aos efeitos da história, que torna impossível a<br />
reflexão total sobre preconceitos e precede cada objetivação do passado por<br />
parte do histórico, não é redutível aos aspectos propriamente lingüísticos da<br />
transmissão do passado (...). O jogo da distância e da proximidade,<br />
constitutivo da conexão histórica, é aquilo que v<strong>em</strong> à linguag<strong>em</strong> antes<br />
mesmo de ser uma produção da linguag<strong>em</strong> 132 .<br />
129 Cf. IANNOTTA, op. cit., p.21s.<br />
130 Cf. COSTA, Miguel Dias. A Lógica do sentido na Filosofia hermenêutica de Paul Ricoeur. Revista<br />
Portuguesa de Filosofia, Braga, tomo XLVI, fasc.1, jan.-mar. 1990, p.145.<br />
131 Cf. RICOEUR, Do texto à ação apud IANNOTTA, op. cit., p.24s.<br />
132 Id., p.25s.<br />
49