subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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como sofredor tanto quanto ativo e submetido a eventualidades da vida<br />
[...] 241 .<br />
Em síntese, ao final de todas essas intersecções entre as teorias narrativa e ética, o<br />
autor assevera que “a ‘vida boa’ é, para cada um, a nebulosa de ideais e de sonhos de<br />
cumprimento com respeito à qual uma vida é considerada mais ou menos realizada ou<br />
irrealizada”. Porque é o fim de todas as ações – que, por sua vez, têm o fim <strong>em</strong> si mesmas –<br />
ela se revela fim nos fins, ou seja, como uma “finalidade superior que não deixaria de ser<br />
interior ao agir humano” 242 .<br />
Uma tal idéia supõe, portanto, um esforço de avaliação, ou melhor, “um trabalho<br />
de interpretação da ação e de si mesmo”, o que se torna propriamente próximo da<br />
interpretação de um texto. Daí <strong>em</strong>erge um círculo hermenêutico peculiar entre a idéia de “vida<br />
boa” e as decisões acerca da efetuação dos planos de vida (profissão, vida afetiva etc). Como<br />
é escopo de toda a obra,<br />
o conceito de si sai grand<strong>em</strong>ente enriquecido dessa relação entre<br />
interpretação do texto da ação e auto-interpretação. No plano ético, a<br />
interpretação de si torna-se estima de si. Em troca, a estima de si segue o<br />
destino da interpretação. Com esta ela dá lugar à controvérsia, à contestação,<br />
à rivalidade, <strong>em</strong> suma, ao conflito de interpretações, no exercício do<br />
julgamento prático 243 .<br />
Essa adequação entre os ideais de vida e as decisões não pode ser verificada<br />
<strong>em</strong>piricamente, mas depende de um exercício do juízo, ainda que, segundo Aristóteles, o<br />
agente considere sua própria convicção como uma evidência experiencial – uma phronésis<br />
comparada à aisthésis (percepção). Tal evidência é a nova feição da atestação, na qual “a<br />
certeza de ser o autor de seu próprio discurso e de seus próprios atos torna-se convicção de<br />
julgar b<strong>em</strong> e de agir b<strong>em</strong>”, aproximando o agente da “vida boa” 244 .<br />
241 RICOEUR, O si-mesmo como um outro, p.210.<br />
242 Id., p.210.<br />
243 Id., p.211.<br />
244 Cf. Id.<br />
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