18.04.2013 Views

subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

o pensamento manifesto na linguag<strong>em</strong>, para Cl<strong>em</strong>ente de Alexandria (150-215); e<br />

“interpretatio est vox articulata per se ipsam significans”, para Boécio (480-525) 9 .<br />

Daí <strong>em</strong> diante, o termo foi utilizado de diversas formas por pensadores, sobretudo<br />

por aqueles que intentavam, no nível filológico, provar que a metodologia da interpretação<br />

dos textos sagrados não divergia daquela usada <strong>em</strong> outros textos 10 .<br />

Fílon de Alexandria (entre 13-54 d.C.), judeu, é considerado o pai da alegoria<br />

(αλληγορια) 11 , <strong>em</strong>bora não tenha explicitado nenhum método para ela. Fazia uso da alegorese,<br />

isto é, do processo explícito de interpretação pelo qual se capta a intenção do texto alegórico,<br />

sobretudo nas passagens vetero-testamentárias <strong>em</strong> que havia risco de gerar mal-entendidos<br />

míticos caso se aplicasse uma interpretação literal. Comparava o sentido literal ao corpo, e o<br />

alegórico, à alma; sentido esse que só poderia ser visto por alguns iniciados – um saber<br />

esotérico, pois. As Sagradas Escrituras não bastavam a si: tudo nelas é alegórico. Destarte,<br />

haveria aí um “preâmbulo da pretensão de universalidade da hermenêutica” 12 .<br />

Orígenes (185/186-254), filósofo cristão dos primórdios da Patrística, desenvolveu<br />

uma leitura tipológica da Bíblia: ao procurar prenúncios da figura de Cristo (typoi) no Antigo<br />

Testamento, acabou considerando-o uma alegoria do Novo, e esse, por sua vez, uma alegoria<br />

da Parusia divina. Asseverava ser necessário ir além do sentido literal para não comprometer<br />

a coerência das Sagradas Escrituras e, por isso, dividiu a leitura <strong>em</strong> três faixas de sentido:<br />

corporal, psíquica e espiritual, desde a mais literal e destinada aos menos letrados, à mais<br />

misteriosa e voltada aos doutos. A “Escola antioquena” opôs-se à essa universalização do<br />

alegórico e do tipológico promovida pela “Escola de Alexandria”, com representantes como<br />

João Crisóstomo (349-407), cujo pensamento é bastante próximo do método histórico-crítico<br />

hodierno 13 .<br />

Filósofo valorizado por Heidegger e Gadamer, o também patrístico Agostinho de<br />

Hipona (354-430) escreveu um tratado hermenêutico intitulado De doctrina christiana, “a<br />

9<br />

“Voz articulada que t<strong>em</strong> significado por si própria”. Cf. GRONDIN, op. cit., p.55 e 56.<br />

10<br />

Cf. MORA, op. cit., p.1325-1326.<br />

11<br />

Alegoria é um termo criado pelo gramático pseudo-Heráclito (século I d.C.), e constitui um tropos retórico que<br />

permite dizer algo e referir-se a algo diferente. Cf. GRONDIN, op. cit., p.59.<br />

12<br />

Cf. Id., p.60-64; citação direta: p.63.<br />

13<br />

Cf. Id., p.64-70; MORA, op. cit., vol.3, p.2172.<br />

15

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!