subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
2.4.3.1 – Compreensão e explicação no ato da leitura<br />
Da dialética de evento e significação existente no discurso, surge a dialética da<br />
compreensão (Verstehen) e explicação (Erklären), próprias do ato da leitura. Assim, Ricoeur<br />
afirma que “[...] a compreensão é para a leitura o que o evento do discurso é para a<br />
enunciação do discurso e que a explicação é para a leitura o que autonomia verbal e textual é<br />
para o sentido objectivo [sic] do discurso” 183 .<br />
No processo de conversação, essa dialética é dificilmente reconhecida, porque<br />
tende-se a sobrepor explicação (desdobramento das proposições e significados, voltado à<br />
estrutura analítica do discurso) e compreensão (apreensão do sentido num ato de síntese,<br />
visando a unidade intencional do discurso). Se ambas se confund<strong>em</strong> no processo de<br />
comunicação, tornam-se totalmente distintas ao olhar da hermenêutica romântica, na qual<br />
explicar equivale a formular leis e teorias a partir de procedimentos hipotético-dedutivos –<br />
cuja aplicação cabe às ciências naturais (Naturwissenschaften) – e compreender alude a<br />
interpretar as experiências de outros sujeitos transmitidas indiretamente por meio dos diversos<br />
signos: fisionômicos, gestuais, vocais, escritos etc – interpretação essa operada pelas ciências<br />
do espírito (Geistswissenschaften), para as quais é a “<strong>em</strong>patia”, isto é, a transferência de<br />
alguém para a vida psíquica de outr<strong>em</strong> que torna possível qualquer compreensão 184 .<br />
Tal dicotomia proposta pela hermenêutica romântica é concomitant<strong>em</strong>ente<br />
epist<strong>em</strong>ológica e ontológica. Nela, a interpretação não aparece n<strong>em</strong> como um terceiro termo<br />
n<strong>em</strong> como – conforme pensa Ricoeur – o próprio nome da dialética <strong>em</strong> consideração, mas sim<br />
como um caso especial de compreensão “aplicada às expressões escritas da vida” 185 .<br />
A caminho dessa dialética da compreensão e explicação, Ricoeur tece sua crítica<br />
ao fato de considerar um texto como uma entidade s<strong>em</strong> mundo, ou seja, algo s<strong>em</strong> qualquer<br />
referência à realidade, como o pensam as escolas estruturalistas da crítica literária, que<br />
consideram o texto como um sist<strong>em</strong>a fechado, s<strong>em</strong> exterior – o que aproxima a literatura da<br />
noção saussureana de langue. Assim o pensa Lévi-Strauss, que divide os mitos <strong>em</strong> entidades<br />
coextensas à frase, chamadas mit<strong>em</strong>as, cuja combinação formaria a estrutura do mito. Assim,<br />
183 RICOEUR, Teoria da interpretação, p.83.<br />
184 Cf. Id., p.84s<br />
185 Id., p.85.<br />
63