subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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que “o símbolo faz pensar [...], é o dom da linguag<strong>em</strong>”. A razão disso é que o símbolo,<br />
enquanto “estrutura lingüística de duplo sentido”, não possui somente valor expressivo – nível<br />
s<strong>em</strong>ântico – mas também valor heurístico – que alude à descoberta e compreensão de cada um<br />
<strong>em</strong> relação a si mesmo. Tomar o símbolo como “aurora da reflexão” significa, pois,<br />
considerar que ele não requer somente interpretação, mas também reflexão filosófica, a qual<br />
não é algo que se soma ao símbolo, mas deriva mesmo de sua estrutura 145 .<br />
Dessa referência, Ricoeur estabelece a proximidade entre mithos e logos, mito e<br />
Filosofia: o próprio “ato filosófico, <strong>em</strong> sua natureza íntima, não somente não exclui, como<br />
também requer algo como uma interpretação” 146 . Se parece “escandaloso” tentar estabelecer<br />
essa relação – sobretudo porque o símbolo é provido de um caráter aporético enquanto preso<br />
às línguas e culturas, é opaco (não transparente) e sua interpretação é revogável – o autor<br />
assevera que “justificar o recurso ao símbolo, <strong>em</strong> filosofia, consiste, finalmente, <strong>em</strong> justificar<br />
a contingência cultural, a linguag<strong>em</strong> equívoca e a guerra das hermenêuticas no próprio<br />
interior da reflexão” 147 .<br />
Ao supor esse trabalho de decifração, Ricoeur nega a possibilidade de se<br />
compreender a posição do ego por via da evidência psicológica, da intuição intelectual ou da<br />
visão mística. “Uma filosofia reflexiva é o contrário de uma filosofia do imediato [...], precisa<br />
ser ‘mediatizada’ pelas representações, pelas ações, pelas obras, pelas instituições e pelos<br />
monumentos que a objetivam”. Destarte, Ricoeur afasta desse seu projeto uma “filosofia da<br />
consciência”, porque a consciência já não é um dado, mas uma tarefa. Apoiado no<br />
pensamento de Malebranche e Kant, o autor considera que é certo que haja a percepção do eu<br />
enquanto pensante, mas isso não é uma idéia ou conhecimento de si mesmo, senão um<br />
sentimento. Para Ricoeur, pois, reflexão difere muito de intuição 148 .<br />
145<br />
Cf. RICOEUR, Da interpretação, p.41-45. A significação simbólica acontece de tal forma que somente é<br />
possível ir à significação secundária por meio da primária, ao perceber-se que o símbolo contém mais sentido<br />
que o sentido meramente literal. a significação simbólica acontece de tal forma que somente é possível ir à<br />
significação secundária por meio da primária, ao perceber-se que o símbolo contém mais sentido que o sentido<br />
meramente literal. Ricoeur distingue símbolo de alegoria porque, enquanto essa t<strong>em</strong> função simplesmente<br />
didática e é prescindível, aquele t<strong>em</strong> necessidade de existir s<strong>em</strong>pre que não se possa fazer uma abordag<strong>em</strong><br />
conceptual direta. Assim, diferente também de um conceito, o símbolo se abre a possibilidades s<strong>em</strong>ânticas<br />
intermináveis. Cf. Id., Teoria da interpretação, p.66-69.<br />
146<br />
Id., Da interpretação, p.46.<br />
147<br />
Id., p.45.<br />
148<br />
Cf. Id., p.46; GARRIDO, Sonia Vasquez. La hermeneutica del si y su dimenión ética. Reflexão (Revista<br />
quadrimestral do Instituto de Filosofia PUCCAMP), Campinas, ano XXII, n.69 (A Hermenêutica de Paul<br />
Ricoeur), set./dez.1997, p.102.<br />
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