subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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3.2.1.2 – A solicitude<br />
O segundo momento é referente ao “com e para o outro” da proposta ética<br />
<strong>ricoeur</strong>iana e o autor o designa pelo termo solicitude. Como o primeiro momento t<strong>em</strong> aspecto<br />
reflexivo e tal reflexividade traz consigo o risco de um fechamento sobre si mesmo, Ricoeur<br />
expõe sua tese de que “[...] a solicitude não se ajunta de fora à estima de si, mas que ela<br />
desdobra a sua dimensão dialogal até aqui passada <strong>em</strong> silêncio [...]”, de forma que “[...] a<br />
estima de si e a solicitude não pod<strong>em</strong> ser vividas e pensadas uma s<strong>em</strong> a outra”. Isso se dá pelo<br />
fato de que o si é tido como digno de estima antes pelas suas capacidades – o “eu-posso” de<br />
Merleau-Ponty – do que pelas realizações, o que abre espaço ao outro como mediador entre a<br />
capacidade e a efetuação 245 .<br />
É nesse papel de mediação que Aristóteles insere a abordag<strong>em</strong> da questão da<br />
amizade (philia) – a qual, <strong>em</strong> Ética a Nicômaco, opera a transição entre a perspectiva do<br />
viver-b<strong>em</strong>, aspecto aparent<strong>em</strong>ente solitário, e a justiça, de aspecto político. O t<strong>em</strong>a da<br />
amizade importa muito a Ricoeur porque o autor grego não a situa no âmbito psicológico, mas<br />
no ético, ao considerá-la uma virtude. Porquanto a amizade supõe relação mútua, um “viver<br />
junto” (suzén), pode-se afirmar que<br />
[...] não somente a amizade depende efetivamente da ética como primeiro<br />
desdobramento do desejo de viver b<strong>em</strong>; mas, sobretudo, ela leva ao primeiro<br />
plano a probl<strong>em</strong>ática da reciprocidade, autorizando-nos, assim [sic] a<br />
reservar para uma dialética de segundo grau, herdada da dialética platônica<br />
dos “grandes gêneros” – o Mesmo e o Outro –, a questão da alteridade como<br />
tal 246 .<br />
Essa idéia de mutualidade é muito cara a Ricoeur porque ela é a base para evitar a<br />
prevalência tanto para o pólo do Mesmo, quanto ao Outro, postuladas respectivamente por<br />
Husserl e Lévinas, como se verá ulteriormente. Tal reciprocidade supõe o fato de que cada um<br />
ama o outro tal como ele é, o que só pode acontecer na amizade segundo o “bom” –<br />
irrepetível, portanto, na amizade conforme o “útil” e o “agradável” 247 .<br />
245 Cf. RICOEUR, O si-mesmo como um outro, p.212s.<br />
246 Id., p.215.<br />
247 Cf. Id.<br />
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