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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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2.4.2 – Fala e escrita<br />

Para Ricoeur, a escrita é “a plena manifestação do discurso”, porquanto é nela que<br />

se manifesta plenamente a separação entre significação e evento, a qual está apenas<br />

virtualmente presente na fala. Devido a esse fator, o texto logra uma “autonomia<br />

s<strong>em</strong>ântica” 169 .<br />

É com relação ao meio que se encontra a alteração mais evidente e fundamental<br />

entre a fala e a escrita pois, se a primeira alude à expressão vocal imediata (a voz), fisionomia<br />

ou gestos, a segunda deixa de apresentar esses fatores humanos e passa a fixar o discurso <strong>em</strong><br />

um “suporte exterior”, seja a pedra, a madeira, a argila, o papiro, o pergaminho, o papel, ou<br />

até mesmo o disquete, que são diferentes do corpo do falante. Essa fixação do discurso<br />

implica <strong>em</strong> uma maneira distinta de relacionar-se ao evento: no texto, o evento da fala não é<br />

fixado, mas somente o discurso enquanto o “dito”, ou seja, o no<strong>em</strong>a do ato de falar. Assim,<br />

parte-se do sagen (dizer) para a aus-sage, (enunciação) 170 , da vox à littera e da phoné à<br />

grammata, o que resulta numa tríplice libertação da escrita <strong>em</strong> relação à fala 171 .<br />

A primeira das libertações concerne à relação interlocucionária, pois a situação<br />

dialógica presente na fala deixa de existir. Isso afeta a referência do discurso ao seu locutor:<br />

no discurso falado há uma referência imediata ao falante por ele estar presente na situação de<br />

diálogo, permitindo que haja uma coincidência entre o que o locutor intenta dizer e o que<br />

significa de fato seu discurso; por outra parte, no discurso escrito rompe-se com a<br />

coincidência entre significação verbal textual e intenção mental do autor, fato esse que resulta<br />

na “autonomia s<strong>em</strong>ântica do texto”, quando o significado inscrito importa mais que o que o<br />

autor quis dizer. Por isso um texto t<strong>em</strong> um autor, já não um locutor 172 .<br />

Ricoeur considera o conceito de autonomia s<strong>em</strong>ântica como muito relevante à<br />

hermenêutica e adverte novamente ao risco de unilateralidades entre sentido e evento:<br />

169 Cf. RICOEUR, Teoria da interpretação, p.37.<br />

170 Cf. Id., p.38s; Id., Filosofia e linguaggio, p.222.<br />

171 Cf. Id., p.225; Id., Teoria da interpretação, p.40.<br />

172 Cf. Id., p.41s; Id., Filosofia e linguaggio, p.225s,<br />

Por um lado, teríamos o que W. K. Wimsatt chama a falácia intencional, que<br />

sustenta a intenção do autor como o critério para qualquer interpretação<br />

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