subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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Outro t<strong>em</strong>a que atrai Ricoeur é a philautia – amizade entre si e si mesmo. Como<br />
Aristóteles esquivou-se de responder diretamente a questão sobre esse t<strong>em</strong>a, Ricoeur busca a<br />
resposta <strong>em</strong> outro probl<strong>em</strong>a: “se o hom<strong>em</strong> feliz terá ou não necessidade de amigos”, que<br />
encontra resposta na afirmação aristotélica:<br />
Com a necessidade e a falta, é a alteridade do “outro si” (heteros autos) que<br />
passa ao primeiro plano. O amigo, como este outro si, t<strong>em</strong> por papel prover<br />
o que somos incapazes de conseguir por nós mesmos (di’hautou). [...] A<br />
posse dos amigos [...] é considerada comumente o maior dos bens<br />
exteriores 248 .<br />
Com isso, valendo-se de suas categorias metafísicas principais, ato e potência,<br />
Aristóteles aponta a amizade como atividade (énergéia), uma atualização inacabada da<br />
potência (dynamis), a qual efetua a própria vida. A amizade estaria, pois, numa posição de<br />
necessidade, que se refere não somente ao que está inacabado na relação do viver-junto, como<br />
também na carência presente na relação do si com sua própria existência, o que leva Ricoeur a<br />
concluir que “é assim que a ausência habita o coração da amizade mais sólida”. Destarte,<br />
concatenadas a mutualidade e a philautia, a maior contribuição aristotélica aos olhos de<br />
Ricoeur é que<br />
A amizade acrescenta à estima de si, s<strong>em</strong> nada suprimir. O que ela<br />
acrescenta é a idéia de mutualidade na troca entre humanos que se estimam<br />
cada um a si próprio. Quanto ao corolário da mutualidade, a saber, a<br />
igualdade, ele põe a amizade no caminho da justiça [...] 249 .<br />
Para além de Aristóteles, a solicitude possui traços que não estão presentes no<br />
tratamento da amizade. É aí que Ricoeur abre seu debate a um autor que propõe um discurso<br />
que difere bastante da igualdade presumida pelo Estagirita entre o si e o outro: Lévinas, cuja<br />
filosofia<br />
repousa na iniciativa do outro na relação intersubjetiva. Na verdade, tal<br />
iniciativa não instaura nenhuma relação, na medida <strong>em</strong> que o outro<br />
representa a exterioridade absoluta com respeito a um eu definido pela<br />
condição de separação. O outro, nesse sentido, se absolve de qualquer<br />
relação. Essa não-relação define a exterioridade mesma 250 .<br />
248<br />
RICOEUR, O si-mesmo como um outro, p.217s.<br />
249<br />
Id., p.220.<br />
250<br />
Id., Sé come un altro, p.284 (O si-mesmo como um outro, p.221) A essa afirmação de Ricoeur, se será<br />
confirmada muitas vezes ao longo da obra, é contestada pela afirmação de que “[...] a alteridade não ocupa o<br />
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