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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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No primeiro nível encontra-se o conflito nas atividades de deliberação num Estado<br />

de direito, as quais visam estabelecer provisoriamente a ord<strong>em</strong> de prioridade das solicitações<br />

de cada esfera de justiça. Para Ricoeur, é próprio da d<strong>em</strong>ocracia a presença de conflitos e<br />

esses permanec<strong>em</strong> abertos e renegociáveis, de forma que não pod<strong>em</strong> ser considerados uma<br />

anomalia – porquanto o b<strong>em</strong> público não pode ser determinado científica ou dogmaticamente.<br />

Ad<strong>em</strong>ais, “a discussão política é s<strong>em</strong> conclusão, se b<strong>em</strong> que não seja s<strong>em</strong> decisão”. Para<br />

Ricoeur, é propriamente a deliberação que promove a sujeição da Sittlichkeit hegeliana à<br />

phronésis aristotélica 294 .<br />

No segundo nível estão os conflitos que tang<strong>em</strong> a discussão dos fins do “bom<br />

governo”, isto é, a preferência por uma forma de Estado conforme os t<strong>em</strong>as da liberdade,<br />

prosperidade, segurança etc. É devido à pluralidade irredutível desses fins que se torna<br />

impossível realizá-los <strong>em</strong> sua totalidade simultaneamente, o que exige recurso à phronésis, a<br />

pesquisa da boa constituição conforme as conjunturas (sejam essas de ord<strong>em</strong> geográfica,<br />

histórica ou sócio-cultural) 295 .<br />

No terceiro nível Ricoeur trata do próprio processo de legitimação da d<strong>em</strong>ocracia,<br />

mais especificamente da crise de legitimação relativa à “falta de fundamento que parece afetar<br />

a própria escolha de um governo do povo, para o povo e pelo povo”. O autor toma Claude<br />

Lefort, para qu<strong>em</strong> a d<strong>em</strong>ocracia “é o regime que aceita suas contradições a ponto de<br />

institucionalizar o conflito”. Os homens teriam razões de preferir a d<strong>em</strong>ocracia ao<br />

totalitarismo baseadas no querer viver juntos, como ilustra a ficção de um contrato social.<br />

Nisso, pois, é o “bom conselho” que aparece como desafio à crise de legitimação:<br />

Se e na medida <strong>em</strong> que esse “bom conselho” prevalece, a Sittlichkeit<br />

hegeliana – que também se enraíza nos Sitten, nos “costumes” – mostra-se<br />

equivalente da phronésis de Aristóteles: uma phronésis para diversos ou,<br />

antes, pública, como o próprio debate 296 .<br />

294 “No Estado de direito, a noção aristotélica de deliberação coincide com a discussão pública, com esse<br />

‘estatuto público’ (Öffentlichkeit) reclamado com tanta insistência pelos pensadores das Luzes; por sua vez, a<br />

phronésis aristotélica t<strong>em</strong> por equivalente o julgamento <strong>em</strong> situação que, nas d<strong>em</strong>ocracias ocidentais, procede da<br />

eleição livre. A esse respeito é inútil – quando não perigoso – prever um consenso que ponha fim aos conflitos”.<br />

RICOEUR, O si-mesmo como um outro, p.302.<br />

295 “Essa escolha é um novo ex<strong>em</strong>plo do julgamento político <strong>em</strong> situação, <strong>em</strong> que a eubolia não t<strong>em</strong> outro apoio<br />

que não a convicção dos constituintes, finalmente seu senso de justiça – virtude das instituições – no momento<br />

de uma escolha ‘histórica’”. Id., p.304.<br />

296 Id., p.306.<br />

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