subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
husserliana, porquanto a “dependência da interpretação nos confrontos da compreensão<br />
explica o fato que a interpretação preceda s<strong>em</strong>pre a reflexão e supere qualquer constituição do<br />
objeto por parte de um sujeito soberano” 123 . Se na via fenomenológica há a suposição de um<br />
sujeito absolutamente transparente a si mesmo, na via hermenêutica essa suposição cede lugar<br />
a uma compreensão mediatizada de si mesmo pelos signos, símbolos e textos 124 .<br />
O salto hermenêutico <strong>ricoeur</strong>iano é marcado, a fortinori, pela “implicação do<br />
intérprete no trabalho de interpretação, compreendendo-se a si mesmo no seu ser, ou no seu<br />
‘modo de ser’” 125 . A relação sujeito-objeto privilegiada pelo propósito epist<strong>em</strong>ológico é<br />
levada, pois, a abrir-se à condição ontológica da participação, através da qual “aquele que se<br />
interroga participa da coisa mesma sobre a qual interroga” 126 . Assim:<br />
É tal participação que é sucessivamente apreendida como finitude do<br />
conhecer. A acentuação negativa que conota o termo mesmo de finitude<br />
entra na relação toda positiva de participação – que é a experiência<br />
hermenêutica mesmo – somente porque a <strong>subjetividade</strong> já avançou a sua<br />
pretensão de ser o fundamento último. Tal pretensão, tal exagero, tal hybris,<br />
faz então enfatizar, por contraste, a relação de participação como finitude 127 .<br />
Reconhecer a participação significa pôr <strong>em</strong> dúvida a consciência imanente. Isso o<br />
fizeram os “mestres da suspeita”, ao denunciar que há vários el<strong>em</strong>entos – como o inconsciente<br />
– que preced<strong>em</strong> a pretensa consciência. Eis que uma identidade probl<strong>em</strong>ática <strong>em</strong>erge nesse<br />
ponto, implicando que<br />
[...] a consciência de si pode ser presumida por outras razões. Na medida <strong>em</strong><br />
que a consciência de si é um diálogo da alma consigo mesma e o diálogo<br />
pode ser sist<strong>em</strong>aticamente alterado pela violência e por todas as intrusões<br />
das estruturas de dominação naquelas da comunicação, a consciência de si<br />
enquanto comunicação interiorizada pode ser tão dúbia quanto o é a<br />
consciência do objeto, mesmo se por razões diversas e específicas 128 .<br />
123<br />
IANNOTTA, op. cit., 19.<br />
124<br />
Cf. IANNOTTA, op. cit., p.14 e 45; GAMA, op. cit., p.384.<br />
125<br />
Id., p.384.<br />
126<br />
RICOEUR apud IANNOTTA, op. cit., p.20.<br />
127<br />
RICOEUR, Do texto à ação apud IANNOTTA, p.20, grifos do autor. A autora, Iannota, utiliza o termo<br />
appartenenza, o qual preferiu-se aqui traduzir por “participação”, por considerar ser mais compreensível que<br />
“pertença”.<br />
128<br />
Id., p.21.<br />
48