subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
1.1.7 – Hermenêutica no centro da reflexão filosófica – ontologia e linguag<strong>em</strong> – Heidegger e<br />
Gadamer<br />
Sucessivamente, encontra-se Martin Heidegger (1889-1976), o qual afirma que<br />
Dilthey avançou no entendimento da Hermenêutica como auto-explicação da compreensão da<br />
“vida”, mas que seria necessário ir além: basear a interpretação realizada pelas ciências do<br />
espírito na analítica existenciária (dimensão ontológica). Se Dilthey privilegiara o aspecto<br />
epist<strong>em</strong>ológico <strong>em</strong> sua hermenêutica, o pensamento heideggeriano primou pela preocupação<br />
ontológica 46 .<br />
Se outrora a hermenêutica não gozava de uma concepção unitária e de<br />
sist<strong>em</strong>aticidade, com Heidegger ela passou a tomar posição mais central na reflexão filosófica<br />
– de modo que o próprio autor adjetivou sua filosofia de hermenêutica. A obra Ser e t<strong>em</strong>po<br />
(1927) foi a que introduziu mais relevant<strong>em</strong>ente a questão hermenêutica; <strong>em</strong> escritos<br />
posteriores, poucas foram as referências explícitas a essa área 47 .<br />
No pensamento de Heidegger, a compreensão humana se moveria a partir de uma<br />
pré-compreensão oriunda de sua situação existencial e o Dasein 48 seria caracterizado por uma<br />
interpretação que antecederia qualquer enunciado. Tal tese compôs a chamada hermenêutica<br />
da facticidade, enquanto interpretação daquilo que subjaz a elocução, ou seja, da estrutura de<br />
cuidado do Dasein. Diferent<strong>em</strong>ente de seus imediatos predecessores hermenêuticos,<br />
Heidegger propôs-se a fazer uma hermenêutica de ord<strong>em</strong> não epist<strong>em</strong>ológica – ocupada com<br />
questões metodológicas – mas ligada à compreensão. Essa, por sua vez, fora sintetizada na<br />
fórmula “sich auf etwas verstehen” (entender-se sobre algo) e indicava, antes que saber sobre<br />
algo, o poder lidar com esse algo. Eis porque se falava <strong>em</strong> “compreensão existencial”, que<br />
poderia ser chamada de compreensão “prática”, porquanto versava sobre um modo de situarse<br />
no mundo, isto é, um modo de ser. A interpretação, para ele, é um modo original de pensar<br />
o “dito” <strong>em</strong> um “dizer” 49 .<br />
46 Cf. MORA, op. cit., p.1327; SACADURA, op. cit., p.778s.<br />
47 GRONDIN, op. cit., p.157-159; NOVASKI, op. cit., p.111.<br />
48 Dasein, <strong>em</strong> vocabulário heideggeriano, alude à constituição ontológica do ser humano e é comumente<br />
traduzido para o português como “ser-aí”, ou como “pre-sença”. Cf. CAVALCANTI, Márcia de Sá (trad.). In:<br />
HEIDEGGER, Martin. Ser e t<strong>em</strong>po. v.1. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1988, p.309. Dasein não é sinômino de hom<strong>em</strong>,<br />
mas se refere, <strong>em</strong> Ser e t<strong>em</strong>po, ao ser dos humanos ou ao ente que possui esse ser; é o “<strong>em</strong> cada caso meu”. Cf.<br />
INWOOD, Michael. Dicionário Heidegger. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.29s. Porque a tradução desse termo<br />
pode corromper seu original significado, utilizar-se-á aqui o original al<strong>em</strong>ão.<br />
49 Cf. MORA, op. cit., p.1327; GRONDIN, op. cit., p.159-161;<br />
25