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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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seja, porque algo da tradição da qual se faz parte é capaz de dirigir-se ao intérprete. Tal<br />

entendimento da compreensão não se reduziria, então, à captação intelectual de um contexto<br />

objetivado e isolado num enunciado. Linguag<strong>em</strong> não seria, nesse contexto, apenas um meio<br />

de transmissão das tradições a ser compreendido, mas um acontecimento no mundo cujo<br />

sentido deveria ser questionado, a ponto de dar possíveis novos rumos essas tradições 62 .<br />

Com essa hermenêutica ou lógica da pergunta e da resposta, Gadamer apontou o<br />

centro da filosofia hermenêutica, na concepção de que o próprio ser seria dialogante. Se<br />

compreensão é diálogo, não existiria nenhum enunciado afirmativo – como era postulado pela<br />

lógica locucional – mas sim perguntas e respostas. A verdade de um enunciado poderia ser<br />

encontrada, portanto, nos pressupostos desse enunciado, que são as perguntas, última forma<br />

lógica motivadora de qualquer enunciado: “não existe nenhum enunciado que não possa ser<br />

entendido como resposta a uma pergunta e que só assim possa ser entendido realmente”. Eis o<br />

que se chamou de “fenômeno hermenêutico originário” – o qual r<strong>em</strong>eteria à “palavra interior”<br />

estóico-agostiniana. “O que é enunciado não é tudo. Somente o inexpresso transforma o que é<br />

dito <strong>em</strong> palavras que nos pod<strong>em</strong> alcançar”. S<strong>em</strong> minorar o valor do dito, Gadamer propôs<br />

atentar conjuntamente para a conversação interior, de forma que se pode entender sua<br />

expressão: “ser, que pode ser compreendido, é linguag<strong>em</strong>” 63 .<br />

Foi pela consideração da conversação interior que Gadamer formulou a pretensão<br />

de universalidade da hermenêutica. Com isso, não significa que ele pretendesse absolutizar a<br />

sua filosofia – o que incorreria no tão objetado historicismo. Significa, porém, que a<br />

hermenêutica ultrapassa o âmbito das ciências do espírito para permear também o horizonte<br />

filosófico, pois a busca por compreensão e linguag<strong>em</strong> seria uma expressão da facticidade<br />

humana e, portanto, de ord<strong>em</strong> ontológica. O ser humano viveria, assim, <strong>em</strong> e a partir da<br />

conversação, de forma que seu desejo por linguag<strong>em</strong> seria expressão de sua finitude. A<br />

linguag<strong>em</strong> não foi, portanto, o objeto da hermenêutica gadameriana, mas seu fio condutor,<br />

enquanto portadora de tradição e, por conseguinte, de experiência do mundo e de consciência<br />

histórica 64 .<br />

O fato de uma conversação estar s<strong>em</strong>pre presente <strong>em</strong> toda parte onde algo<br />

chega à fala, seja sobre quê e com quer for, quer se trate de outra pessoa ou<br />

62<br />

Cf. MORA, op. cit., vol.2, p.1166 e 1327; GRONDIN, op. cit., p.192-196.<br />

63<br />

Cf. MORA, op. cit., p.1166s.<br />

64<br />

Cf. Id., p.1167; GRONDIN, op. cit., p.200-205.<br />

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