subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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sentido supera a intenção e a compreensão encontra um lugar no âmbito s<strong>em</strong>ântico, já não<br />
psicológico 188 .<br />
É por isso que o sentido objetivo pode construir-se de várias maneiras e o malentendido<br />
não pode ser cancelado plenamente, exigindo uma conjectura, isto é, a capacidade<br />
de “construir o sentido com o sentido verbal do texto” – o que se aproxima da “divinação”<br />
schleiermacheriana. O que se deve conjecturar é, primeiramente, a arquitetura do texto, ou<br />
seja, a reconstrução da plurivocidade textual (o todo) a partir da poliss<strong>em</strong>ia das palavras (as<br />
partes). Depois, deve-se conjecturar a individualidade do texto, isto é, limitar o uso de<br />
conceitos genéricos para que o texto seja considerado um indivíduo 189 .<br />
Em terceiro lugar, deve-se fazer uso da conjectura porque os textos literários<br />
apresentam horizontes potenciais de sentido capazes de se atualizar<strong>em</strong> de maneiras diferentes.<br />
A partir daí, segue o processo de validação, que não corresponde à verificação <strong>em</strong>pírica, mas<br />
sim aproxima-se mais da lógica da probabilidade – como afirmava E. D. Hirsch – pois<br />
“mostrar que uma interpretação é mais provável à luz do que sab<strong>em</strong>os é diferente de mostrar<br />
que uma interpretação é verdadeira”. Tal lógica da probabilidade científica torna possível um<br />
conhecimento científico do texto 190 .<br />
Essa articulação entre a conjectura e a validação, abordag<strong>em</strong> subjetiva e objetiva,<br />
forma um círculo hermenêutico, o qual não é de caráter vicioso pelo fato de estar aberto aos<br />
critérios de falsificabilidade 191 propostos por Karl Popper; nesse círculo, a função de<br />
falsificação é executada pelo conflito de interpretações contrastantes. Disso, segue que “uma<br />
interpretação deve não só ser provável, mas mais provável do que outra interpretação”.<br />
A lógica da validação permite-nos girar entre os dois limites do dogmatismo<br />
e do cepticismo. É s<strong>em</strong>pre possível argumentar a favor de ou contra uma<br />
interpretação, confrontar interpretações, arbitrar entres elas e procurar um<br />
acordo, mesmo se tal acordo ficar para além do nosso alcance imediato 192 .<br />
188<br />
Cf. RICOEUR, Teoria da interpretação,p.87s.<br />
189<br />
Cf. Id., p.88s.<br />
190<br />
Cf. Id., p.90s.<br />
191<br />
Ou “falseabilidade”, como é mais comumente encontrado nas traduções brasileiras.<br />
192 Id., p.90s.<br />
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