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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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coloca por si mesma” de maneira indeduzível e inverificável, já que existir é pensar. Fichte,<br />

na mesma perspectiva, denomina essa verdade básica de “juízo tético”. Em ambos os casos, a<br />

própria autoposição do si é considerada reflexão – dado que essa é entendida como um “[...]<br />

retorno à pretensa evidência da consciência imediata”. É essa conclusão que Ricoeur objeta,<br />

afirmando-a como insuficiente 137 .<br />

O conceito de sujeito no pensamento <strong>ricoeur</strong>iano não resulta da confusão entre<br />

Cogito reflexivo e consciência imediata – pela qual se concebe que o sujeito é aquilo que<br />

acredita ser, numa autofundação originária e transparente. Ante um tal imediatismo – o<br />

“paraíso perdido da fenomenologia” – o autor propõe um sujeito já não como fundamento da<br />

realidade, mas como tarefa, porquanto “[...] o sujeito que se interpreta interpretando os signos<br />

não é mais o Cogito: é um existente que descobre, mediante a exegese de sua vida, que é<br />

colocado no ser antes ainda de pôr-se e de possuir-se” 138 . Reflexão, portanto, supõe um<br />

trabalho de decifração e constitui “[...] o esforço para reapreender o Ego do Ego Cogito no<br />

espelho de seus objetos, de suas obras e, finalmente, de seus atos” 139 .<br />

Outro ponto não menos importante é que reflexão não equivale meramente à<br />

crítica do conhecimento. Tendo, num primeiro momento, aproximado-se de Kant para refutar<br />

Descartes, o pensamento <strong>ricoeur</strong>iano afasta-se agora da filosofia kantiana para declarar:<br />

É contra essa redução da reflexão a uma simples crítica que digo, com Fichte<br />

e seu sucessor francês Jean Nabert, que a reflexão é menos uma justificação<br />

da ciência e do dever, que uma reapropriação de nosso esforço para existir.<br />

A epist<strong>em</strong>ologia é apenas uma parte dessa tarefa ampla: t<strong>em</strong>os que recuperar<br />

o ato de existir, a posição do “si” <strong>em</strong> toda a espessura de suas obras 140 .<br />

Apresenta-se aí, ad<strong>em</strong>ais, uma abertura à vertente de caráter prático e ético.<br />

Ricoeur toma a ética <strong>em</strong> um sentido spinozista, como totalidade do processo filosófico, capaz<br />

de engendrar a passag<strong>em</strong> “da alienação à liberdade e à beatitude”. Não recai, pois, na<br />

acentuação moral, mas sim no esforço do ego para existir e no seu desejo para ser.<br />

137 Cf. RICOEUR, Da interpretação, p.45s.<br />

138 RICOEUR apud IANNOTTA, op. cit., p.13.<br />

139 RICOEUR, Da interpretação, p.45s. Cf. TONG, Lik Kuen. Ato, signo e consciência: pensando <strong>em</strong> conjunto<br />

com Ricoeur In: HAHN, op. cit., p.22.<br />

140 RICOEUR, Da interpretação, p.47.<br />

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