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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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É nesse ponto que uma filosofia reflexiva reencontra e talvez salva a idéia<br />

platônica de que a própria fonte do conhecimento é Eros, desejo, amor, e a<br />

idéia spinozista de que ela é conatus, esforço. Esse esforço, porque é a<br />

posição afirmativa de um ser singular e não simplesmente uma ausência de<br />

ser. Esforço e desejo são duas faces da afirmação do “Si” na primeira<br />

verdade: existo 141 .<br />

Essa idéia de Eros – entendida por Platão como descendente de Penía (Penúria) e<br />

de Poros (Recurso) 142 – r<strong>em</strong>ete a um sujeito resultante da combinação entre a falta e a<br />

plenitude, um intervalo que reclama a compreensão integral desse sujeito 143 . Para tanto,<br />

importa a reflexão como uma “apropriação de nosso esforço para existir e de nosso desejo de<br />

ser, através das obras que dão test<strong>em</strong>unho desse esforço e desse desejo”. Eis, pois, a<br />

conjunção da reflexão à interpretação, quando se prescinde da intuição, num <strong>em</strong>penho de<br />

balizar a posição do sujeito por meio dos “signos esparsos no mundo”, cuja significação é<br />

revogável. Destarte, o pensamento <strong>ricoeur</strong>iano atinge o que ele denominou de “raiz do<br />

probl<strong>em</strong>a hermenêutico”:<br />

2.3.1 – A passag<strong>em</strong> dos símbolos à reflexão<br />

[...] Ao afirmar-se a si mesma, a reflexão compreende sua própria<br />

impotência <strong>em</strong> ultrapassar a vã e vazia abstração do “eu penso” e a<br />

necessidade de recuperar-se a si mesma decifrando seus próprios signos<br />

perdidos no mundo da cultura. Assim, a reflexão compreende que não é<br />

ciência, que precisa, para manifestar-se, reassumir os signos opacos,<br />

contingentes e equívocos que estão esparsos nas culturas <strong>em</strong> que nossa<br />

linguag<strong>em</strong> se enraíza 144 .<br />

Foi na obra La symbolique du mal (A simbólica do mal) que Ricoeur enunciou a<br />

“passag<strong>em</strong> à reflexão” e se questionava a respeito da articulação entre a interpretação dos<br />

símbolos e a reflexão filosófica, já que ele desejava continuar tanto a “ouvir a rica palavra dos<br />

símbolos e dos mitos” – momento pré-reflexivo – quanto a escutar a tradição filosófica<br />

ocidental – momento já reflexivo. A solução para tal dil<strong>em</strong>a foi inspirada <strong>em</strong> Kant: concluiu<br />

141<br />

RICOEUR, Da interpretação, p.47, grifos do autor.<br />

142<br />

Cf. REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. v.1 (Filosofia pagã antiga). São Paulo:<br />

Paulus, 2003. p.147.<br />

143<br />

Cf. TONG, op. cit., p.23s. Esse autor denomina tal intervalo de “diferença metafísica”. No próximo capítulo,<br />

encontrar-se-á a mesma distinção, sob o aspecto do Cogito exaltado <strong>em</strong> Descartes e do Cogito despedaçado <strong>em</strong><br />

Nietzsche.<br />

144<br />

RICOEUR, Da interpretação, p.48.<br />

52

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